Ontem [Como se fosse já]
Há dias em que volto ao rio. Para me tingir de azul. E amornar as lembranças que marinheiram ao sabor das marés. Para me segurar ao verde que cai da serra. Rir. E mergulhar nos afetos. Nas correrias assarapantadas dos caranguejos em direção aos juncos que povoavam a margem. A do lado de cá. Na outra está a cidade. As luzes e uma fonte luminosa. E a voz que embeleza avenida com líricas de amor. No entanto, o meu regresso concretiza-se no bote. O doce encanto do momento! É nele que viajo. Que vou e chego. E vejo. Depois percorro as vozes e os rostos que me seguraram. Estabeleço todos contactos. Ato e desato os laços. Mas é em jeito de reclamação que fico. Porque o rio corre para o mar. Onde tudo é água. Como as lágrimas.
Às vezes, não me lembro por onde caminho. Fico por lá. Mas é fantástico! É indispensável que o meu rosto esteja molhado. Pelo azul da água. Pelo sal. E pelo deserto do silêncio. Assim, vejo tudo nitidamente. Como se fosse já.