ler [como quem tem fome]
ordenaram as letras e devoraram tudo
... e para trás a casa. Tão tarde! Um, depois outro, fazendo-se tantos. Respiraram fundo. Ofegaram partilhas e sentaram-se na frescura do chão. No céu, o Sol gargalhava orgulhos, esperando que eles acabassem a fartura. Demoraram no prazer... pegavam as palavras... faziam amor com elas.
O Sol reluziu o espanto. Tudo parou... Eles devoravam os livros. Comiam-nos... um a um. Começaram pelas lombadas... a capa... as folhas... Pelas bocas escorriam universos e sonhos. Vidas e emoções. Com gula de primeira necessidade. Antes que a bancarrota da leitura fosse notícia nos inúmeros números que falam de números...
A recolha do lixo fez-se à entrada da noite... Apenas umas tantas margens, uma ou outra sobrecapa, um frontispício. Um epílogo, três prefácios e um posfácio. Nem um título!
Uma mulher continuou sentada... agarrou as folhas que se soltaram e esperou que elas voltassem ao princípio...
[imagem da internet]