Há no meu corpo uma fome desgrenhada. Que não percebo, mas compreendo, nas feridas da falta. E na aridez dos dedos procuro alimento. Lambo os restos. Na ausência do pão. Nos retratos que adornam a mesa. Inutilidade tamanha! Como se a minha fome se saciasse com desenhos… Aconchego-me na sombra do colo. E um perfume inunda o meu corpo. Chega-me o doce fervilhar do tomate num beijo que guardo no olhar. Na mesa estende-se uma toalha desenhada na trama da linha. À noitinha, no silêncio do coração em que me deito e me calo. E lambo o gosto que guardo na boca. Numa azeda e funesta fusão que experimentei pela manhã.
No resguardo deste dia, o pão, que agora como, não tem sabor. Falta-lhe o doce dos teus braços. Onde eu comia até ser dia. Outra vez. Enquanto o tacto se satisfazia na seda do teu sorriso. Numa experiência única para o paladar. E o olhar se perdia na imensidão do mar. Há nos meus olhos um pranto calado. E lágrimas que se amotinam pelas ruas, numa revolta de flores.
Hoje, não te ofereço flores de comprar. Daquelas que estão embaladas nas montras. Penduradas na pressa do dia. Essas, dizias tu, dão-se no fim. Deixo-te um beijo de margaridas amarelas. Que se erguem na fertilização da paisagem. Raízes agarradas à terra, mãe.
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