quente sabor da areia [na grandeza do rio]
Dizem-me que um rio é um rio. Qualquer um sabe trandordar das margens. E entoar melodias ao luar. Num espelho e luz e pedir à Lua que o venha abraçar. Que tem água, tem o mar. Falam com o mesmo à vontade com que as pedras rolam do leito. Desfeitas nas lágrimas poisadas. Conversam num tempo de guerra. E os ventos são uma incerteza. As vítimas são sempre em maior número e, nos estaleiros, os barcos agonizam mágoas tão díspares! É distinto o meu rio. Eles nunca entraram na casa que descansa na areia e abre as janelas aos pardais, enquanto as garças se encandeiam num mar de azul-verde. Nunca escutaram a música que ondeia na serenidade do branco. Nem provaram o sal que se levanta no ajuste das marés. Não sentiram a mansa e delicada respiração do rio que galgava as escadas até ao sótão. Esquecem-se dos instantes. Quando a areia carregava segredos de espuma que as vozes murmuravam à tardinha no açucarado esplendor do Sol. E as ondas rodopiavam num admirável passo de dança no apetite da pele. Nunca cuidaram das vozes que se ampliam na areia, na sorte dos búzios. Nenhum rio é igual no caminho para o mar.