Nós [eu nunca te pedi cordas azuis]
Eu nunca te pedi facilidades. Nos teus olhos dispus as imagens que moravam no meu corpo. Às tuas mãos atei amarras de fibras trançadas de sol.
Na tua mão direita, lembras-te, erguiam-se cordas libertas da admiração. E o rio dançava musicatas azuis. Enquanto nos teus olhos passavam alegres composições verdes. A gente cantarolava ao som do violino que entrelaçava acordes perfeitos. Numa tensão afinada.
Agora eu sei que o tempo enferruja o equilíbrio. E que os nós se agarram às cordas. E obrigam a habilidades de coordenação rítmica dos dedos. Cadenciada e com intervalos regulares.
Mas eu não sei como se desatam os nós. Nem tocar sem que um beijo se solte num sopro de sonoridades irrepreensíveis.
[fotografia de Hugo Colares Pinto]