Chana é uma gata bonita. É guia de profissão
Num reino muito antigo, havia um castelo. No alto. Pela colina escorriam pedaços de histórias. Passados de homens destemidos que se perderam pelo mar. E partiram engalanados de vontades e segredos. Conta-se que o castelo era habitado por uma moira encantada. Jovem e de enorme beleza. Felinamente sedutora. Aparecia frequentemente pelo recinto do castelo. Cantando e penteando os seus reluzentes cabelos negros como os fiapos da noite com um pente de ouro. Nunca prometeu riquezas a quem a libertasse do encanto. Meiga. Tão doce. Apareceu junto ao rio e entrou no velho castelo de tesouros guardados em baús decorados com ferragens de tempo. Das diversas formas que podia assumir, optou por uma. E escolheu ser gata. Guardiã do local e dos visitantes. A população mais antiga declarou que a Chana nunca se separou do castelo. É lá que dormia a sesta. Todos os dias. Depois, espreguiçava enigmas e ensinava caminhos dentro das muralhas. Visitava as ruínas da antiga igreja matriz e as ruínas do palácio dos alcaides da vila. Espreitava as salinas e assegurava que a terra era uma flor de sal.
No castelo velho, a Chana é uma gata bonita. É guia de profissão. Consta que ali permanecerá eternamente, tecendo idas e vindas e miando maravilhosamente, encantando quem a ouve, qual donzela enfeitiçada.