do sapo - um bicho gordo e feio
Hoje, as crianças e os jovens gastam-se nos centros comerciais. Cansam-se sentados agarrados aos comandos das consolas. Consomem os dedos no teclado do computador. Esgotam o seu parco vocabulário no messenger. Engordam a comer hambúrgueres. Danificam os seus lindos olhos no monitor LCD. Lambuzam-se nas gomas e batatas fritas. Ensurdecem com os fones enfiados nas orelhas. Se eles tivessem ouvido o meu avô a tocar concertina e a escrever poemas na areia... Uma seca, seguramente!
A minha teve brincadeiras felizes no riacho, no charco, no medronhal, no olival... Na minha infância, eu aprendi a diferenciar um sapo de uma rã. Vi-lhes a metamorfose. Que girinos tão feios aqueles! Depois, quando já tinham forma de gente considerava-os lindos! Não! Só as rãs, porque os sapos sempre os considerei muito mal-parecidos. Repugnantes, mesmo. Lá em casa ninguém tolerava bicho tão desajeitado, apesar de anuro ser nome pomposo.
Hoje, o sapo é um bicho esperto. Ilustre. Vedeta de televisão, rádio e cassete. Nunca supus que tal pudesse vir a acontecer. Sapo é motor de busca. Sapo fala, anda, corre, dança. Usa óculos escuros. Sapo é correio electrónico. Sapo vai à praia. Anda de mota. É blog. Faz olhinhos às raparigas. É publicidade. Faz discurso. Sapo usa laço preto ao pescoço e suspensórios. É simpático. Divertido. Mal educado. O Sapo tem planos tarifários. Velocidade. Faz downloads e uploads . Sapo é banda larga. Sapo está em qualquer lugar porque é móvel. Mas, o que eu gosto mais no sapo são os links. Talvez um dia eu encontre um príncipe.
O pior é pensar que os nossos meninos e meninas só conhecem este. O verdadeiro já não. Que pena. É muito mais bonito. É genuíno.
Eu tenho sorte! Conheço os dois! Contudo, prefiro o Cocas.