Hoje não falo de mim, nem mesmo para mim. Nem da leitura! Nem da escola. Nem dos professores. Nem dos alunos.
Se o fizesse teria que forçar a minha vontade e não me apetece. Estou cansada! Não tenho força para dizer o que não quero dizer. Ou falo ou calo-me. Pronto, optei pelo silêncio de mim.
Para disfarçar o desejo maledicente e irritado de me pronunciar sobre coisas, vou socorrer-me de alguém que nem conheço. Nunca o vi. Um estrangeiro dá sempre jeito para mediar dissonâncias. Quando se trata de um filosofo, ainda melhor. Fernando Savater nasceu em San Sebastián em 1947. Catedrático de ética na Universidade Complutense de Madrid, é autor de uma vasta obra que abarca o ensaio, a narrativa e o teatro.
Fernando Savater é um dos pensadores mais destacados de Espanha e tem vindo a ganhar grande popularidade no mundo inteiro.
É polémico. Divertido. Incómodo .
Numa conferência, com o título Os livros de minha vida, afirmou que com a literatura, multiplica-se a vida e a alma, e que privar-se da leitura é como mutilar-se. O pensador Basco incentivou os jovens a ler e escrever, dizendo que todo aquele que lê e escreve tem todas as riquezas da vida e tudo o que necessita para se expressar a si mesmo.
Uma entrevista. Uma opinião. Pretextos para reflexão...
Hoje é Abril e estou monótona. Não sei dizer a tristeza que me perpassa o corpo e a alma, que me atiça esta dor de cabeça infernal. Sinto-me derrotada… É isso, a minha alma perdeu a carta de alforria… Agora é escrava de deves, mais de tens. Logo eu, que sempre cumpri as minhas obrigações! Ando por aqui e ali vergada ao peso de decretos, telejornais, prós e contras, reuniões, informações numeradas… São tantos os contras que já não deixam discernir os prós. Sinto-me publicamente chicoteada. Domada, vencida… Sinto o peso da derrota que me vai roubando o brilho ao que tanto gostava de fazer. Intermitente, essa luz. Temo que um dia se extinga …
Hoje é Abril e eu não queria estar pesarosa. Ser Abril é uma excelente razão. Mesmo, quando a chuva persiste em andar por cá. Também ela já não entende as leis, nem as meteorológicas. O mundo – sela lá qual for – gira mesmo ao contrário. E os rios? Ainda correm para o mar?
Hoje é Abril e eu quero festejar o mês que anuncia e carrega dentro do seu ventre o desabrochar das flores, o pipilar dos pássaros, o voo rasante dos insectos, o colorido das borboletas, o vaguear das andorinhas… negras como o meu coração. Invejo-as. Ai, se as invejo. São livres, são negras, cumprem a sua natureza sem decretos, nem despachos, nem ordens de serviço. É na Primavera que regressam… E hoje? É Primavera?
Hoje é Abril e eu quero celebrar o livro. Inventou-se um dia para um ser cada vez mais votado ao esquecimento. É um luxo a que poucos acedem, num país que está a consentir que se transforme em acessório o que é verdadeiramente fundamental. Desafortunado livro que não pode disputar a guerra das audiências televisivas, nem ombrear com os MP3 , nem com o Messenger e muito menos com as SMS. Porém, tem um dia para que todos se lembrem o pouco que se lê em Portugal!
Vou dormir. Talvez amanhã eu tenha um dia sem dores de cabeça, se não amanhã, por certo um dia...
Hoje nada de admirar. O ponto de exclamação não se admirou. De nada! Rien de rien ! Ao sábado não há matéria de facto. É um gasto com nadas. Temos a hora das compras. Todas as que sobram são de paleio intervaladas com um café, dois... um arroz-doce. Este sim, é obrigatório. O arroz da Dona Perpétua é fantástico. Divino. Cremoso. Delicioso. Tem canela. Tem dias! Que é como quem diz tem sábados. Não há sábado sem o arroz-doce. Aquele, porque outro não serve.
Por vezes, prescindimos do Jumbo. Portugal tens outros caminhos... Do arroz-doce é que não. Tudo o resto acontece depois, ao sábado.
" As histórias para crianças devem ser escritas com palavras muito simples, porque as crianças , sendo pequenas, sabem poucas palavras e não gostam de usá-las complicadas. (...) Quem sabe se um dia virei a ler vez outra história, escrita por ti que me lês , mas muito mais bonita?... "
José Saramago
Os hipermercados são, tal ilha em época alta, uma superfície de bens rodeada de consumidores por todos os lados. Uns compram, outros não. E nestas coisas, como nas outras, temos sempre que contar com os mirones. É um vício. Uma doença muito actual, muito moderna, muito civilizada. Ao fim-de-semana não há passeio melhor. Melhor, mas mesmo muito melhor é quando o hiper cabe dentro de um centro comercial. A êxtase é total Tudo ali... tão perto de si... Só não entendo lá muito bem é essa coisa do prefixo... por uma questão de tamanho.
Sou gente! E depois? Também vou ao hiper ... e que jeito ele dá. Tem lá tudo!!! Até os amigos, os conhecidos, a família, os alunos, os pais dos alunos, os vizinhos, os outros que não conhecíamos de lado nenhum e com quem se troca meia dúzia de palavras de circunstância. Balelas, lugares-comuns, é verdade, mas conversa-se... Que outro local reúne assim tanta gente da mesma tribo? Nenhum... que me lembre.
Por entre corredores e prateleiras, milimetricamente preparadas e dirigidas ao negócio, lá cheguei aos livros.
Amo os livros. Pelo que dizem, pelo que calam, pelo seu cheiro, pela textura da sua pele, pela cor do papel... não daqueles que são escritos a martelo, como a água-pé que se fazia lá na terra. Uma zurrapa! Gosto de livros honestos, bem vestidos, vaidosos, charmosos. Lusos, de preferência . O que é nacional não é bom ?
Ia eu a caminho do livro mais próximo, quando um chamou por mim. Já não me lembro como. Não sei se com a cor, se com as ilustrações, se com as palavras que lhe cobriam as páginas... Talvez tivesse sido o autor. Talvez. É bem provável que tenha sido Saramago... Mesmo em Lanzarote, ele faz-se ouvir. Nem sempre tenho disposição para o ler. É necessário ânimo , coragem até. Naquele dia, já à tardinha, aconteceu. Tão bonito, aquele livrinho. Lindo! Magnífico ! Doce, terno... Peguei num e depois noutro e ainda outro. Ofereci dois! A duas amigas. Gosto delas, gosto do livro...
O outro? Esse é meu! Não o dou a ninguém! Estou a mentir, desculpem. Dá-lo-ei a um dos meus netos... Seguramente. A história? Contá-la-ei aos dois...
E digam-me lá se os hiper não são fantásticos?
Aqui vos deixo A Maior Flor do Mundo , em espanhol que também é língua de prémio Nobel.
A dúvida instalou-se. As certezas refugiaram-se na página não sei quantos do caderno de actividades. Estes cadernitos são aqueles livrinhos que se amarram aos manuais escolares, quais carraças desumanas que teimam em não largar o dito… Há livrinhos assim! Outros há que nem se enxerga a paragem… A notícia dá-os como parte integrante, como oferta ao aluno… Coitado do aluno! Na livraria dizem-lhe que tem que pagar mais uns euritos… e ele não paga, claro. Eu também não pagava, pronto! Desde quando é que se pagam ofertas? Mas há quem não saiba… Tentar não custa!
Além do mais, é pequenote, frágil, magrito… Não dá jeito nenhum colocá-lo na mochila. Não é que pese assim tanto, mas, convenhamos, não se descobre facilmente no meio do desarrumo livresco dos nossos meninos. Por isso, fica esquecido vezes sem conta. Em casa, é óbvio! E as nossas crianças têm tantos Cadernos de Actividades! É natural que os confundam, que os associem aos manuais errados… as capas são tão idênticas. Uma distracção qualquer um tem. Eu tenho, confesso.
A dúvida! Eu estava a falar dela, não estava? Surgiu a propósito de uma forma verbal. É que os textos têm estas palavras difíceis e a gente tem que as entender e ainda por cima explicar. Como se não tivéssemos uma gramática dentro de nós desde que viemos ao mundo… Chegamos à escola e é tudo tão minucioso, tão complicado…Foi assim que veio à baila a conjugação pronominal. De explicação em explicação; de exercício em exercício lá se foi fazendo luz. Terminada a saga do pronome, do verbo e do Caderno de Actividades, que uns têm e outros não, respirei de alívio. Aquilo cansa! Vamos ler, interpretar o texto, brincar com as palavras, descobrir polissemias e jogos que tais…Sentidos escondidos…É muito mais interessante, acrescentei.
Oh, Nãoooooooo! Exclamaram alguns, num tom que me permitiu pressentir que estavam a gostar, que queriam mais… Vá lá entender isto!
Gramática? Querem mais? Estavam a gostar? Juro, que não entendia tal desejo…
Ao fundo da sala, levantou-se um dedo. Indeciso, receoso, porém determinado. E disse “ É que explica tão bem…”. Houve mais uns tantos que concordaram. Encostei-me ao quadro… Depois, a aula continuou, com leitura, com partilha de interpretações…
Hoje, descubro naquelas palavras um aplauso. Foi isso que me quiseram dizer, apenas isso. Elogiar o meu trabalho, o meu empenho. Obrigada, meninos.
O que os meus alunos não sabem, não tenho que lhes dizer, é que não gosto nada de “gramática”. Nada, mesmo! As regras estorvam a minha liberdade de pensamento, de escrita… impõem-se aos meus sentimentos, importunam-nos, impedem-me de respirar… No entanto, não me impedem de bem explicar, de fazer o meu melhor… Também não lhes disse que um professor é um fingidor, que chega a fingir que gosta daquilo que na verdade ama...
Se há coisas que me irritam, é a palavra coisa. Não que não seja uma coisa aceitável, até tolerável! Não que exija um dicionário de lombada vermelha, salpicada de ouro... Não, uma versão de bolso basta. É, sem dúvida uma palavra simpática, redonda, favorável a diminutivos... a "coisinha", a "coisita"... Mesmo assim! É um vocábulo horrendo, miserável, mesquinho... Humilha-nos. Que horror! As coisas têm nomes. Na boca dos que nada dizem é um silêncio desconfortante; na boca dos que muito sabem, porém nada querem dizer, é verdadeiramente estúpido; na boca dos que têm opinião para tudo, sabe a toucinho rançoso... o cheiro empesta o discurso; na boca daqueles que têm nos eufemismos o seu animal de estimação preferido é doentio... A vontade de dizer é estonteante... O desejo de calar assume limites incompreensíveis. É ridículo estar com alguém que nos quer dizer alguma coisa importante, grave, dolorosa... do género " Estou muito doente... Tenho um cancro." e não é capaz... E eu quero saber. É óbvio que quero... Não sai... "Sabes, tenho uma coisa..." Que raiva!!!!!! Porquê chamar àquilo uma coisa, quando é um monstro? Um crime hediondo... perverso, cruel, desumano... E, nestes últimos tempos, tenho ouvido tanta gente a calar que tem essa coisa... Que coisa!!!! Olha, encosta-te a mim...
Características Gerais do Signo Carneiro: Os nativos de Carneiro são dinâmicos, perspicazes e arrojados. O seu temperamento forte e explosivo leva-os a paixões avassaladoras e fugazes, que se desvanecem à mínima contrariedade.
São líderes natos e um pouco frios no que respeita à sua área profissional. Têm uma mente agitada e imaginativa e não olham a meios para atingir os fins.
Pois! Sou Carneiro com muito gosto! Não, não acredito nestas prescrições astrológicas revisteiras, jornaleiras e afins. Mas que mal faz lê-las de vez em quando? Uma pessoa deve ser ecléctica, até na leitura... Há que ler um pouco de tudo, até porque Yo no credo en brujas , pero que las hay , las hay ... E depois há sempre os cornos do bicho...
Lindo, lindo foi o Tiago a rir à gargalhada... contagiante. O Isaac? Dormia e sonhava que a mãe lhe haveria de dar o biberão e mudar a fralda... Lindos, os meus meninos!
Festa? Não tenho idade para isso... um jantarzito com a minha minúscula família, numa espectacular noite de chuva. E como eu gosto da chuva... Caía gota a gota. Umas vezes intensa, fria, violenta, outra tranquila, doce, meiga... O vento dava-lhe força, dinamismo... Entre ambos instalou-se uma paixão arrebatadora que como todas as paixões mundanas são efémeras . Tal como os anos que vou contando. Um após o outro. Desejo tanto contar mais uns quantos... Um dia, num Alentejo com pronúncia de Espanha, alguém me vaticinava vida longa, "vais morrer velhinha", acrescentou. Decidi acreditar!
Prendas? Algumas...São as pessoas que gostam de nós a darem-nos pedacinhos de si. Sempre que faço anos fico mais rica. Até hoje, sempre tive gente que me brindou com pedaços de afectos.
Hoje, dei pela falta de dois pedaços de mim. Não puderam esperar pelo dia dos meus anos, partiram... sem me darem os parabéns, um beijo... Sempre o fizeram. Foram eles que me construíram, me amaram, me fizeram mulher...Obrigada mãe! Obrigada pai! Eu sei que não se esqueceram do dia dos meus anos...
Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto.
[Fernando Pessoa]