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ponto de admiração

ponto de admiração

03
Set08

ver

Paola

de Paola (Vilna Nova de Milfontes)

 

escrever é substituir o lápis pela voz

 

A imaginação é coisa danada. Enrodilha-se em nós. Seduz-nos e depois abala. Não se deixa aprisionar, a safada. E quando lhe perguntamos o nome, desata a correr. E ri, ri e põe a língua de fora. Não me apanhas! Não me apanhas! Lá, Lá, Lá…E eu, que já não tenho idade para correrias, deixo-a ir. Tenho lá capacidade mental para representar a coisa. Usa os sentidos, exorta. E eu olho boquiaberta para o semáforo. Aquele, no cruzamento, à esquerda. Vermelho! Estou feita. Sempre que aqui chego, é isto. E ela passou, que eu vi. Foi-se sem travões. Que não é mulher para obedecer a luzes castradoras. E circula arrebatada. Estouvada! Extravagâncias de madame. Imagination, ma chérie. Imagination! Presumida! E deixo-a ir. Desisto, pronto. Volta! Nada. E lá ao fundo, no jardim, vejo-a a admirar um bem-me-quer. Aposto, que um dia destes, me vem com fantasias. E explica que é criatividade artística. Como se tivesse perfumado as flores e dado voz aos pássaros. Devaneios de artista! E eu tenho para mim que imaginar é ver. E quando o lápis substitui a voz é escrever.

 

Se alguém encontrar a imaginação por aí, não se admire. Por favor, digam-lhe para vir aqui. Sim?

 

01
Set08

retornar

Paola

  "Pequenos contos numa prosa feita poesia e simplicidade. Páginas em que os gatos se passeiam a partilhar encantos e mistérios, só para apreciadores."

 

pegadas do retorno

 

 

- 09 horas e 50 minutos

 

Café. Sempre admirável. Mais dois dedos de conversa. Da treta, claro. Mas atenua males maiores. Deformação profissional. Antigamente, regressava-se descansado e feliz. Hoje, é notícia de televisão, uma nova praga doentia: depressão pós-férias. O retorno preenche-se com ansiedade, distúrbios de sono, fraqueza física e moral, hipersecreção das glândulas sebáceas e mal-estar generalizado.Ai que novidade!

 

- 10 horas e 10  minutos

 

Cemitério. Funeral. Mais um abraço de solidariedade. Uma lágrima de cumplicidade. Tudo por causa de um pai que partiu. O meu foi-se embora em Janeiro. E eu acho que os pais deviam estar quietos.

 

- 11 horas e 30 minutos

 

Escola. Beijos bronzeados com sabor a Agosto. Beijoroquei esta e aquela. E eles. Apesar de escassos. Poupei alguns beijinhos. Os que ficaram na terra das cruzes.

 

Retorno. 10 cêntimos. E um papel minúsculo. Escrevi o meu nome completo. Porque não sabiam como chamar-me, certamente. Agora que sabem, tudo será mais acolhedor. E o nome da escola. Parece-me bem. Tantas vezes a baptizaram que devem andar desorientados. Fiz o que podia. E a data. Para que servirão os calendários? Um  em cada secretária! De seguida, deparei-me com mais uma linha para preencher. Motivo? Motivo de quê? Perguntei, não fosse o meu contributo importar. Do retorno! Explicaram. E não é óbvio? É de lei, não? Pois! Escreva só "férias". Férias??!! Eu escrevi, mas juro que não entendi. Então a razão de eu ir trabalhar são as férias? Pronto. Que seja! Há férias assim. Garanto que prefiro as de ir.

 

Tarefas. Não as vi. Pareceu-me que ainda andam enroladas na areia. No placar jazem papéis fora do prazo. Não faço planos. Que pena!

 

Regresso. Amanhã, talvez. Para quê? Logo se vê. Admirável. E como eu não vi nada, não sei quando volto. Amanhã, talvez.

 

- 11 horas e 59 minutos

 

Estação dos comboios. Veio um e eu fui com ele. O T faz anos e fui almoçar com pequeno. O resto não conto. Coisas pessoais. De família. Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim?

 

Compras. Um livro. Isto posso revelar.  Amados Gatos de José Jorge Letria. É que há sempre um gato por detrás de um grande nome. E eu ainda estou para aqui a matutar na história do meu retorno... e ali, não haverá gato?

 

E tudo isto é o fado cá da terra. E um enorme ponto de admiração!

 

 

01
Set08

re-nascer

Paola

parabéns!

 

Hoje, cumprem-se dois anos da tua vida. Naquele dia, já à noitinha, as flores pintaram-se de cores admiráveis. Os pássaros entoaram cantigas de embalar. Ainda mais harmoniosas. Também mais inolvidáveis. Magníficos acordes. Excelsas consonâncias. O sol brilhou com nova pujança. E nessa noite, as estrelas sorriram. Choraram lágrimas de rir. E silenciaram-se porque as palavras emudeceram no sublime momento em que te vi. Nenhuma fazia sentido. A comoção espalhou-se pelo meu corpo com a certeza de te ter ali.

 

Sabes, Vénus é a deusa do Amor e da Beleza. E que importância tem, se tu és vida e corpo que eu posso beijar? O seu nome tem epítetos forjados no mito. Nada comparável com o teu, mesmo que ignorado por Camões. O teu canta a aglutinação de santo e lago. Pressagia que suplantarás os escolhos da existência. O teu nome tem orgulhos e audácias. Arrojado. E com ele cumprirás êxitos e paixões. E o teu epíteto já é adorado. O templo, em que vives, não tem a mesma grandiosidade que o da deusa-mulher. Não faz mal. O mito foi publicado no papel. Alegórico e simbólico. Moldou o sagrado de devoções que já não existem. Tu és. O olhar de Vénus é vago e perdido na tela. Os seus olhos, quase estrábicos, foram um ideal de beleza. Os teus têm mar. E céu. E o deslumbramento que o admirável proporciona. E entre o Renascimento e o Nascimento, eu escolho-te a ti. Na epopeia camoniana, é deusa-madrinha dos heróis. lusos. Um ornato secundário. Mitológico. Porém, o maravilhoso és tu.

A pele de Vénus é da cor do marfim, com confusão do branco, amarelado e rósea. É excessivamente perfeita. A tua tem brilho natural. Sem amálgama de tintas. O cabelo de Vénus alarga-se e ondula pelo corpo, aprisionando-se na tela de Botticelli. O teu é Sol e luz e brilho. Naturalmente, vida.
O rosto mostra-se eternamente jovem. Que importância tem, se mentir é feio? A boca perdurará fechada. E tu choras e ris e dizes palavras ainda incompreensíveis. Olhos claros? Ela que olhe para ti. Ostenta uma fisionomia de melífera melancolia. A brandura da feição insinua uma benignidade moral que purifica a deusa pagã. Não te importes, meu menino. Às vezes, tu és assim. Mas muito mais. Ela não ri, nem chora. Coitada! Nem há notícia de ter gargalhado. A atitude é de estátua envelhecida. Nada que se compare com a frescura das correrias que fazes no jardim. E também tu representas a natureza plural do amor. Quanto às qualidades espirituais e humanas? Estimo-as superiores. Sim?

 

- Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim, vó!

- Amo-te!

- Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim, vó!

 

Pág. 3/3

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Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto. [Fernando Pessoa]

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