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ponto de admiração

ponto de admiração

31
Jan09

desafiar

Paola

  diálogos virtuais

 

 

 

 

 Desafiou, está desafiado. Aceito por uma vez! Um Breve Olhar envolveu-me nesta teia, depois veio a Sónia... Impecadora me confesso, na ignorância do pecado.

 

  

Gula - Alimento-me sem correr atrás do comer... Há importâncias maiores sempre que a fome não atrapalha a decisão. Às vezes esqueço-me... ou escoa-se o tempo...

 

Avareza - Como eu lamento não ter mais para dar... Na certeza que a minha individualidade não se esgota no acto de dar...

 

Inveja - Invejo todos os têm voado para longe da senhora ministra...

 

Ira - É condição a mim que sou... reajo porque me admiro.  Às vezes arrependo-me, outras não.

 

Soberba/ orgulho - Pobre do ser humano que perca a capacidade de se orgulhar! Soberba é outra coisa. Dessa não gosto.

 

Luxúria - Dou-me quando me dou. Tão-somente isso.

 

Preguiça -  Naturalmente!

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!

 

Vamos lá confessar!

 

GV - http://gmv-teatrices.blogspot.com/

JS - http://oqueeojantar.blogs.sapo.pt/

Sininho - http://jardimsegredos.blogspot.com/

Cigana - http://trazoutroamigotambem.blogs.sapo.pt/

Ausenda - http://poemas76.blogs.sapo.pt/

Pessoinha  http://riscos_e_rabiscos.blogs.sapo.pt/

 Professorinha - http://aprofessorinha.blogspot.com/

 

 

Regras do desafio:

 

  -    Revelar a nossa relação com os sete pecados capitais

 

  -     Nomear outros blogs para  também responderem ao desafio

 

Imagem da Internet

31
Jan09

emudecer

Paola

 silêncio dos sonhos

 

 

 

De dia nem sempre me apetecem palavras. Apenas quero ver silêncios aparatosos que me acordem. A noite aperfeiçoa os esboços que desenho. Transfigura-os com luzes e brilhos... De  noite não desejo o dia.  Nem o Sol. De noite, é a linguagem do silêncio que repara aquilo que o dia estragou.

 
Quando todos se calam, aconteço nos braços de Morfeu. Somos corpos abraçados ao nada num desvario afrodisíaco, até de madrugada.  Alheios a Hipnos que adormece tragado pelo ciúme num palácio onde o Sol nunca entrou. Com Baco ébrio de deslumbramento a espreitar a paixão.
 
Mas sempre que não me apetecem palavras, os sonhos extinguem-se no impedimento de falar.
 
 
Setúbal
Fotografia de Jorge Soares
29
Jan09

pincelar

Paola

 a papoila e o cardo

 

 

 

 

Depois de muito pensar, um quadro decidi pintar. Pinceladas desajeitadas percorreram a tela. Duas mãos desgraçadas desarranjavam-se na ganância das cores. Imprudentes! Sem entendimento do que estavam a figurar. Cores esborratadas, e mãos tão desarticuladas, mesclaram-se na determinação. Depois de tanto arrojo, tudo saiu na perfeição.

 
Um grande plano… verde-de-todos-os-verdes que a esperança tem. Papoilas rubras da cor que a decência contém. Nuvens da cor da branda-e-terna-leveza bailavam no azul-celestial, ao som dos acordes do vento, esboçando-se nas folhas de um enorme sobreiro castanho-tronco. Mais abaixo, um riacho esforçava-se por mergulhar num charco de água-nenuferada. Tudo espalhado na imensidão da tela.
 
Aproximei-me…  alguém da cor-da-ausência estava sentado no silêncio da árvore da cor-de-sobreiro. Mais um retoque… uma pincelada em tons de esmeralda-verde… e terminei o retrato. Contemplei a construção… esmolei-lhe um beijo. Num pormenor pequeno. Ele olhou para mim e eu corri, corri e voltei a correr. Depois, inclinei o caminho, entortei-me num atalho e fugi dali.
 
Se eu soubesse pintar um quadro, retratava-o de corpo inteiro. Obrigava-o a dar-me um beijo. Sem cardos. Que fosse de amor! Que fosse! Mas trajado a rigor da cor-da-verdade. Só depois amarrava a tela à parede e sentava-me gulosamente no deleite de uma taça de arroz-doce.
 
 
 fotografia de João Palmela
 

 

27
Jan09

Jacinta XIII

Paola

O Sol caía no olival, depois do barracão, à esquerda. Queimado pelo tempo com que se recreou a brilhar. Erguera-se cedo com o intento de iluminar a abóbada celestial. Mas por ser tão grande, logo minguou perante a  missão. Talvez fosse esse o motivo pelo qual descia, pelo monte, em prantos dourados. Jacinta habituara-se a escutar-lhe o arquear ofegante. Ela sabia que ali ocorria a volúpia do instante. No exacto lugar onde o dia sucumbe aos pés da noite. Numa posição inversa à luminosidade que transportam. E cobriam-se com sedosos brocados matizados de negrume e claridade. No crepúsculo do deleite. Jacinta ouvia-lhes promessas de amor infinito. Depois do barracão que via da sua janela. E emocionava-se sempre que a noite, agrilhoada à efemeridade do tempo, encaminhava o dia:

 
- Farta os teus olhos de Sol! Inunda-os de luz e as trevas ficarão para trás. Nesse momento, os dias não serão que claridade. Na ausência das noites, o Sol esquecer-se-á que o ocaso é para cumprir.
 
Jacinta imaginava os dias e as noites, montados em doces cavalos alados, a errar por rudes e desapontados atalhos. Na vã tentativa  de eternizar passados corroídos pela preguiça do tempo. Com a alegria de quem rumava na direcção do mais comível banquete, apesar do sabor do impedimento. E o anoitecer tornava-se castelo alindado. Um local sagrado. Talvez o último reduto para os amantes. Abrigo de anjos açoitados nas asas. Como aqueles que Jacinta acolhe em cima da cómoda, no quarto.
 
Um frio tremor fê-la acordar. Saltou do sofá sem destrinçar onde residia o real. Tropeçou no tapete vermelho. O livro dobrava-se na página marcada. O gato, que caiu de pé, somente eriçou os olhos por não entender o súbito alvoroço. Jacinta aproximou-se da janela e já não viu o Sol. Estou aqui! Os seus olhos assustados viram-se nos dele.  Olhos de gato a espreitar nos meus! Declamou num pensamento estonteante.
 
Jacinta, minha ama adorada, eu sei-te tão bem. Aprendi a sentir o que sentes… a ver o que vês… aprendi a perceber que o dia a e noite se encontram no grito contido na dor dilacerante do desencontro. Não me vês, embora me olhes com o mesmo desmazelo com que dormes no sofá. Amo-te na beleza da tua voz, na ternura das tuas mãos… Gosto do modo desleixado com que me agasalhas.
 
Jacinta desorientou-se no olhar do felino… Estou louca! Louca! Concluía, na mais vertiginosa desordem de se desobrigar do bicho. Nunca, até então, ousara pensar… Era a sua companhia delineada numa fidelidade excessiva. Entendiam-se… Naquele dia os olhos do gato tinham um intenso sabor a jade. Estupidamente contentes.
 
Jacinta, minha adorada, eu sei-te tão bem. Não me vês… Olha como a minha cauda risca palavras no tapete vermelho da sala… como rasga o jornal que te aborrece. Repara como te escrevinho poemas que abalam pela janela e que tu não lês. No outro dia, lembras-te? Presenteei-te com um ramo de flores irreais… para que tivesses todas as cores e distinguisses a mais bela. Sabes, é sempre tempo de flores imaginárias. Em cada uma escrevi o teu nome… depois, amansei a minha boca nos teus olhos magoados. Olhei-te com a mesma apoquentação com que embaço o futuro. Eu sou, amiga, a tua voz no silêncio desta casa. A voz que te chama quando te ensarilhas na espera do toque do telefone. A tua dor é minha também. Por isso, eu salto pela janela e adormeço debaixo do chorão. Ali, junto ao rio…Gosto, porque gosto, desse lenço vermelho que te adorna o pescoço… lamento que não tenha sido eu…
 
Estou louca! Louca! Rumorejou, ao mesmo tempo que se reprimia no sofá. Ali, mendigou silenciosamente um tempo nutrido de horas cheias de suores apolíneos. O persa dourado enroscou-se sobre o tapete vermelho. De quando em vez, abria os olhos para ter a certeza que ela sossegara. Ancoraram na mais harmoniosa amálgama de cheiros.
 
 
 Fotografia de Jorge Soares
 
25
Jan09

percorrer

Paola

de Jorge Soares

  Setúbal, Convento de Jesus

 

 

 

 

Debruçada na janela que se esgaça em mim olho para o mar. Sem razão especial, apenas para ver o mar. E sempre que olho para o mar, é o rio que vejo a navegar. Serpenteia medos no percurso que o conduz, mas ousa olhar para trás. O rio corre na incapacidade de recuar e, decidido, confunde-se na vastidão do mar. O rio sabe que continua a ser rio. O oceano é que é o mar. Irmãos de sangue, devoram-se numa corrente contínua. No limite do abismo.
 
Olho e alegro-me por não o poder parar. Feliz por não o terem forçado a correr em linha recta. Porque não há rios iguais. De Sul para Norte. No lado de cá.
 
Depois, quando fecho a janela, faço carícias ao rio que vive longe de mim. Iço as velas e faço-me ao mar… pela rota da canela. No arroz que é doce.
 

Vou vendo e vou meditando,

Não bem no rio que passa

Mas só no que estou pensando,

Porque o bem dele é que faça

Eu não ver que vai passando.

 
                                                        Fernando Pessoa
 
Às vezes, quando penso no rio, uma lágrima desagua no mar...
 

 

 

23
Jan09

mimar

Paola

 

Isto é um mimo. Chegou sem hora marcada, sem se fazer anunciar. Chegou sorrateiro, mas muito verdadeiro. Um mimo. Isto é um mimo .  Um breve olhar , um elo, uma cumplicidade. Obrigada Carlos.

 

Isto é um mimo, porque receber e dar  se abraçam na reciprocidade do gesto. Sempre que me mimam, eu mimo também. Cumplicidades assumidas!

 

Tanto que gosto de me abraçar a ti:

 

Cumplicidade total http://gmv-teatrices.blogspot.com/

Cumplicidade declamada http://poemas76.blogs.sapo.pt/

Cumplicidade de olhares http://oqueeojantar.blogs.sapo.pt/

 

 

21
Jan09

antecipar

Paola

de João Palmela

 

 

Tudo muito comum, num dia desleixadamente chuvoso. Entendo a minha infância, entre aguaceiros descontraídos e intranquilos rasgos de luz. Escuto algazarras meninas e gargalhadas miúdas. Quedas e correrias atrevidas, ao mesmo tempo que avisto bandos de pardais. Poupas e piscos num gorjeio arrojado.
 
Sempre que oiço a minha infância, vejo reflexos da minha velhice. E antecipo a pontualidade do tempo.
 
 
19
Jan09

contemplar

Paola

de João Palmela 

 

 

 

 
Servem os pontos de exclamação para discriminar enunciados de entoação admirativa. Empregam-se, com frequência, em parceria com interjeições, exclamações, apóstrofes e imperativos. Devido ao seu grande carrego emotivo, devem ser consumidos com sobriedade. Nunca por jornalistas!
Têm enormes beneficios terapêuticos. No entanto, pesa-lhes o facto de serem excessivamente passionais. Conseguem sempre admirar-se, mesmo que de episódio ingénuo e vazio se trate. Revelam tendência para provocar autoritarismos geradores de algum mal-estar. 
 
Sinal de alegria, exaltação e alguma comemoração.    Sinal de dor, sofrimento e muita raiva.  Sinal de paixão e admiração pela vida. Sinal de surpresa e afeição. Sinal mandão!
 
 
Por isto
             Por aquilo
                        Por nada
                                  Por tudo! Apenas porque sou!
 
Admiro exageradamente o ponto de admiração. Não pretendo expulsar o menor vestígio de sentimento do meu olhar. Porque sempre que desenho um ponto de admiração, reescrevo-me num amplo ponto de encontro. Quando, um dia, não mais o transportar é porque me tolhi na incapacidade de me assustar. Calei a revolta, peei a emoção.  Eu não sabia ser jornalista!

 

17
Jan09

tramar

Paola

 imagem da internet

 

Sei de um saquinho. Linhas combinadas em movimentos ritmados e decididos. Calmos à tarde. Ao serão é que não. Novelos de sonhos que se desenlaçavam sorrindo. Enredos de artista desenhados por uma agulha adequada. E naquele dedilhar forjavam-se paisagens abertas. Futuras e presentes. Passados perfeitos e imperfeitos num templo de profetas. Condicionais muito hipotéticos. E tantos conjuntivos acarinhados! Sei de um saquinho de renda branca que antes de ser saco era apenas novelos de linha número doze. Agora geme na trama que é.  Hoje, quando digo saco, vejo uma paisagem que se amplia sem começo, nem fim. Sobre um fundo branco, avisto uma multidão compacta de palavras. Amontoam-se numa ordem esbanjada, hesitando entre a subordinação a regras impostas e o bulício que contêm. Quase todas me são estranhas. Às minhas, estendo a mão. Abraço-as com gratidão e elas emaranham-se em mim.  

 
Sei de um saquinho de renda branca tecida com dedos de deusa em laços de seda. Apinhado de amálgamas ponteadas de carinho. Com aglutinações de ternura e justaposições de amor-perfeito. Sem abreviaturas apertadas de nomes que a língua tem. Juncado por vocábulos animados numa parassíntese celestial. Antes e depois, infelizmente. E de todas as palavras primitivas que o saco encerra, são as mãos que teceram o saquinho de renda branca que eu peço. Mas eu sou acréscimo simultâneo de prefixos e sufixos. Sou recorte na união de dois radicais. Sou composição justaposta no guarda-chuva que na segunda-feira me abrigou da perturbação. Sou sigla num saco que desmaia nas letras que pronuncia. Sou acrónimo atormentado por arcaísmos determinados.
 
Sei de um saquinho de renda branca que se fecha sempre que uma justaposição de ideias imagina fugir. Arroz-doce… arroz-doce… arroz-doce… na mais perfeita composição. Com a mais primitiva canela. Sei de um saquinho de renda branca que esconde paisagens da floresta dos medos.
 

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Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto. [Fernando Pessoa]

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