Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

ponto de admiração

ponto de admiração

29
Abr09

partir

Paola

raios partam isto tudo!

preciso de desabafar...

 

 

 

Hoje, sou eu na plenitude de mim. Sem efabulações, na mais inteira verdade. Assanhada. Desapontada. Impotente. Espoliada. A história, que vos que contar, diz-se em poucas palavras.

 

Chegou o dia da consulta de ortopedia que, confesso, aguardava com alguma ansiedade. Aguardei mansamente cerca de três horas… Ouvi o meu nome… fui. O médico perguntou-me o motivo da minha presença… lembrei que tinha fracturado o escafóide… pois e tal… é preciso fazer RX… tome lá a requisição… vá lá acima… Perguntei-lhe se podia deixar o casaco e a pasta no consultório, ele respondeu que sim, que fosse depressa. Eu fui…

 

Radiografia na mão, aí venho eu escadas a baixo com a expectativa na ponta dos pés. Já na sala que de acesso ao consultório, relatei à enfermeira o que andara a fazer. Pedi-lhe que informasse o senhor doutor ortopediata que eu já tinha o RX…

 

Tombei fuzilada de espanto na cadeira mais próxima… O homem acabara o turno, enquanto me radiografavam a mão!! E como um ortopedista, que até é um homem, tem mais que fazer na vida do que aturar ossos estupidamente quebrados… foi-se embora.

 

Assim. Sem deixar rasto, incomunicável. Todos o procuraram. Todos ouviram o meu protesto. Excepto ele que terminara o turno… E foi assim que, pela primeira vez na minha vida, tive uma meia consulta e uma meia radiografia, sem relatório, que nenhum médico viu, nem quis ver… por questões de ética.

 

O senhor assina como médico ortopedista… de nome Doutor António Nunes Godinho. E ali mesmo, num hospital público deste país, que ele  me ensinou o que é falta de profissionalismo. De ética. De atenção pelo doente. De respeito pelo contribuinte. De consideração pelo país. O senhor doutor, fiquei a saber que será  candidato a Presidente da Assembleia Municipal de Azambuja, com o bandulho farto de pressa íntima, deixou o trabalho a meio… E que importância tem, se ganha o mesmo? Irra! Só posso estar a ver mal a coisa. Afinal amanhã é véspera de um longo fim de semana…

 

O homem não me conhece de lado nenhum. E diga-se, nem foi ele que partiu o meu destroçado escafóide… Só que não sei que fazer com uma meia consulta, uma meia radiografia, um meio médico e uma tarde inteirinha perdida no hospital… Nem responder aos meus filhos quando me sujeitarem ao interrogatório do tipo " O que disse o médico?". Não vão perceber que o desgraçado se calou... e eu não vou ser capaz de explicar...

 

(fotografia da Internet)

 

 

27
Abr09

Jacinta XIV

Paola

Os pássaros atravessam a estrada num passadiço aéreo
 
 
 
Estou louca! Louca! Rumorejava, despenhando-se no sofá. O persa dourado enroscou-se sobre o tapete vermelho. De quando em vez, abria os olhos para ter a certeza que ela estava ali. Descansaram numa compassada amálgama de concertos. Há muito que Jacinta adormecia encostada à almofada vermelha… Por vezes, dava-se ao trabalho de rastejar até ao quarto. Depressa concluíra que a arrumação não lhe garantia mais, nem melhor, sono.
 
Uma radiosa tranquilidade atravessava frouxamente a vidraça, clareando a sala. Doces murmúrios de vento beijavam-lhe o rosto ensonado. Num gesto de comovente entrega, Jacinta abraçou-os e abrigaram-se da aragem da manhã. Ela estremeceu na perturbação e deixou-se levar pelo sopro ameno. O gato não se importou, permanecendo na quente quietude do tapete vermelho. Se a espreitava, fazia-o para se assegurar que a sua amada dona sonhava que estava flutuando num imenso céu de azul-paixão.
 
Abriu os olhos e estremeceu. O seu corpo parecia-lhe percorrido por um calafrio ameaçado por sombras que não via. Por sonhos que já vivera. Sentada no sofá, as pernas abandonadamente cruzadas davam-lhe a certeza de ter duas, procurava a razão para que os sonhos que sonhou não fossem verdade. E engasgava-se nas respostas que não compareciam. Porquê eu… porquê a mim… E os pardais, que saltaricavam no telhado, chilreavam impressionados com a espessura da tristeza. Ali permaneceu, com a decisão nas mãos. Nos olhos, Jacinta carregava os destroços da batalha que travara até de madrugada, enquanto pelo rosto lhe escorriam hesitações ensanguentadas. Horas a observar o chão da contenda inundado em sangue, sem antever solução…
 
Tomou um duche arrebatado, vestiu-se numa elegância delicadamente fresca e fugiu para a rua. Assim, sem destino. Sem ninguém. Ela, o céu e a estrada… Assim, no silêncio dos carros, na ausência das luzes, no nada de varandas e prédios. E procurou as flores que se aninhavam ao colo da sombra das árvores… Com a agilidade plagiada por tantas vezes que o persa amarelado saltou para o parapeito da janela… No silêncio de brandas miadelas que ecoavam no empedrado, tropeçou na reflexão. Jacinta nunca entendera as palavras que o gato dirigia à Lua. Mas compreendera o motivo de tanto miar sempre que a via a brilhar.
 
Os passos levavam-na por ali. E ia, caminhava, corria sem saber exactamente o lugar. Não lhe importava o destino, porque já o conhecia. A estrada estendia-se em linha alinhada, numa ou outra curva mal desenhada. Subia e descia em movimentos tão discretos que ela não se importava. E corria sem conhecer o lugar. Apenas desejava uma estrada… longa… sem fim… para andar. Acontecer com o mesmo à vontade com que o fumo se alheia da labareda. Desbastando-se na confusão das formas.
 
Para trás estavam alguns minutos de passadas decididas. Agora havia a estrada… Jacinta fugia dos seus pensamentos, da mesma forma que o fazia dos raros motores que aceleravam por ali. Sem os passeios, ela seguia pela beira do alcatrão. O Sol já começava a pesar-lhe no corpo e ameaçava-lhe os pés empoleirados nuns saltos imprudentemente altos. Ao inferno escaldante que a esmagava, juntava-se o Sol que a começava a torturar. Inebriava-lhe a meditação. Aquecia-lhe as dores… e ela desorientava-se na assimetria do espaço. Amotinava-lhe a memória real e ela contemplava, no alcatrão, fotografias que a cegavam. E via as brechas que provocava no chão. Fendas e censuras que lhe esburacavam o alento.
 
Embrulhada em paisagens que não estavam ali, Jacinta passava. Insípida pela resolução que tomara, mas com a verdade que não poderia ter sido outra. Porque, considerava, tudo tinha um fim. E, para acautelar, a decomposição, deu-lhe uma morte adequada… mas doía-lhe tanto! Talvez já fossem duas horas. Talvez… Habitualmente, não usava relógio. Detestava que o tempo lhe estrangulasse o pulso e lhe atraiçoasse o tempo que era o seu.
 
De repente, num sereno voo tombado, um melro atravessou a estrada. Da negrura das penas, avançava um bico alaranjado. Do susto ao encantamento, foi um instante. Jacinta correu atrás dele e viu-o poisar num sobreiro preguiçoso do outro lado da barreira que acompanhava o asfalto. De um lado e outro, os montículos de terra livre coloriam-se com as cores das papoilas. As margaridas estendiam-se na indecisão entre ser brancas ou amarelas. Os cardos davam-se em alegres flores roxas no meio de multidões de azedas. As oliveiras e os sobreiros arranjavam-se do outro lado do declive. Um tapete perfumado estendia-se na irregularidade dos aromas. Ali, à beira da estrada. O melro. Depois uma poupa listrada. Um voo cortante. Apenas os insectos permaneciam no bailado arquitectado, sugando o néctar. E as cores. Jacinta deliciava-se com a exuberância da paisagem e pintava outras. Escutava trinados esvoaçantes…vozes que as aves não tinham.
 
Na desvairada perseguição, Jacinta atravessou a estrada…correu e perdeu-se no tempo que já não sabia de cor. Não viu, não ouviu o autocarro que circulava com destino e com hora marcada. Uma travagem traçada no alcatrão. As rodas dianteiras espezinhavam as papoilas… as outras desorientavam-se na valeta que há muito não recebia a visita do cantoneiro. O homem queixava-se que tinha por sua conta uma enormidade de quilómetros de estrada. Manter aquilo em bom estado parecia-lhe improvável. Um tipo não chegava para tudo. Talvez fosse por isso que se contentava com amanhos insignificantes. Sobretudo em alturas de fiscalização. Queria lá saber da erva daninha. Sozinho nunca conseguiria.
 
Abriu os olhos e ouviu o medo das vozes que se agitavam dentro da camioneta. O insulto e o pânico. O enxovalho e a dor. Jacinta, sentada na estrada, jazia agarrada ao aro do farol esquerdo do estupor que surgiu do outro lado da via. Sem se ter apercebido que os pássaros atravessam por cima. Sem reacção. Apavorada. Sem entender a razão pela qual as suas pernas estavam debaixo daquilo… e os sapatos lhe tinham desamparado os pés. Nem o motivo da ira do motorista que acabara de saltar lá de dentro. Esgazeado e a soletrar palavras que ela não entendia, por mais que arregalasse os olhos…
 
Ergueu-se num pinote alucinado. Atravessou a estrada, saltou a valeta e trepou a barreira. No outro lado, humilhou-se no meio do mar amarelo da tremocilha, virgulado por tranquilas línguas arroxeados de rosmaninho. Ignorou o cheiro a terra alvoraçada, a flores desabrochadas e a poeira levemente assustada pelo seu passar. Os sentidos murcharam tanto que desfaleceu. Foram os caules da desnectarada forrageira que se fizeram de cama.
 
- Senhora… senhora… senhora… está bem? Vou levá-la ao hospital… Senhora… Menina...
 
 
[imagem da internet]
 
25
Abr09

pronunciar [abril]

Paola

reprimo as minhas palavras... sem permitir que ninguém as cale... sempre que me silenciam escondo as palavras no avesso das minhas reticências...

 

 

 
E neste sábado que é Abril… celebro as palavras. As que sei, na minoria de um léxico admirável que a língua tem. As que sonho, na grandiosidade de as ter sentido. As que sonhei, mas que não tive, no assíduo mistério de não entender a causa…
 
Hoje, que é Abril… exalto as palavras livres. Palavras com a barriga atulhada de espontaneidade e muita verdade. Palavras coloridas com verde na esperança e azul no mar… Palavras que rebolam na areia sem medo das poças de água estagnada e do lixo acumulado…
 
Em Abril, grito as palavras do açaimado poeta…
 
- Posso falar?
- Não!
 
… para que nunca mais a resposta se faça numa frase imperativa, tão negativa… e para que me seja permitido pronunciar Abril…

 

 

 

[fotografia de António Manuel Pinto da Silva]

 

23
Abr09

clarear

Paola

o negro da noite dissipou nuvens assustadas

 

Mesmo que o preto não seja uma cor. Mesmo que carregue cicatrizes imperecíveis. Mesmo que faça na minha noite desenhos a carvão, eu quero-o. 
 
Por isso, desfechei todas as janelas. Quebrei os ferrolhos, rasguei os cortinados, estilhacei os vidros martelados de aflições… E de tanto as escancarar, a minha casa já só tinha janelas…
 
E da janela, que é a minha casa, o preto foi a cor que lá estava. Esplendorosa na delicadeza das estrelas. Feminina no rendilhado das feições … Contornos soberbos… Com grandes curvas, bem definidas e numa bênção celestial, descobriu os seios tão definidos… agora nus de uma folgada blusa preta com florinhas deslumbrantes.
 
E pela janela, que é a minha casa, eu vi aquele negrume tão belo… e num gesto irreflectido entreguei-me na condição da inteira ausência da dor… na certeza que o preto é tão-somente uma cor. Ali, naquele mesmo instante, na alegria da noite, o preto tornou-se numa das cores mais claras que já vi...
 
(imagem da internet)
 
21
Abr09

arrefecer

Paola

navego num rio que não existe

 

 

 

Quando o meu rio me dava abraços escaldantes, marés de beijos quentes e espumas de mornas carícias... Quando o meu rio me amava na areia, enquanto o vento trinava cantilenas de amigo... eu não via que o azul da sua pele era mais azul que o azul que é azul... Tão quente!

 

Agora, que o meu rio navega longe do meu ver, o azul arrefeceu... e é, por isso, uma cor demasiado fria... Na temperatura do frio e do quente, o azul é a cor do chão do horizonte da minha pátria ... Tão quente!

 

 

 

19
Abr09

re-editar

Paola

o meu livro é da cor do azul-rio
 
 
Um dia, alguém me escreveu. Páginas e páginas de letras delineadas com emoção. Muitas ilustrações preparadas com mãos de sabedorias de bem-querer! Tantas paisagens em que eu me reinventava. Outras desenhadas só para mim. Predominava o azul do meu céu que vai do lado de cá até lá… E eu não sei em qual das margens o azul é mais estendido… o sol, esse brilha mais do lado de além… Onde os poemas conversavam pacatamente com a alegria da concertina… Onde a melancia se desventrava no deleite encarnado da abundância… Onde a batata era doce e se desfazia em cuidados ao calor do lume que crepitava na chaminé… e o café pululava na cafeteira de esmalte azul… A minha paisagem tem os sabores do lado de lá…
 
No sábado, reescrevi um capítulo do livro… de ruas e vielas. Aperfeiçoei algumas imagens já amareladas por tanto tempo sem ver… Unicamente eu as vi, porque só eu as posso ver. As que estão, não são as que eu desenhei… Ali mesmo, na praça pública, escrevi mais poemas… memorizei-os todos… para que os possa dizer de cor… ou não. Vou guardá-los no meu olhar…
 
Não! Não os vou parafrasear. Estou deslumbrada com as palavras que inventei... Oponho-me a dissecar poemas. Afasto a hipótese de humilhá-los com um esgravatar feito interrogatório de motivos, consequências e deduções… Não lhes quero engendrar vontades que já esqueci e que nem sei se desfrutei. Recuso intenções que ignoro, embora minhas, neste tempo que não é mais o outro… Se leio um poema, perco-me no sentir… e gosto. Quando não gosto viro a página… E neste livro comum, a que chamo vida minha, a poesia não quer leitor… até eu me confesso incompetente no meu analfabetismo funcional… Foi escrita sem motivo e não quer entendimento...
 
 
O livro, que me escreveu, pereceu às pegadas do tempo… e eu mais não sou do que um rascunho mal acabado… Regressei a casa, onde, na calada da noite, o vou re-editar... 
 
17
Abr09

re-nascer

Paola

quando nasci não percebi o rio do meu nascer 

 

 

Em Abril __________ rasguei o ventre da minha mãe ___________ surgi nua de despudores ___________ para me saber no depois __________ aconchegada em lençóis de espuma que o rio bordou para mim __________ emergi de ternas tormentas __________________ amparou-me em mãos doces _________________ em Abril __________  ainda faltavam duas horas para o dia ser outro ___________ em Aprilis ilimitado no ressurgimento __________________ abri a boca a safras de admirações _____________ chorei alaridos de vida ____________ chegados ao outro lado da cidade ____________ nasci em Abril _________ quase ao pé do rio _________ não aconteceu nada no mundo quando eu nasci _________ tão-somente o sorriso dela desviou a Lua por estar a brilhar ______________ nasci em Abril __________ num luzente mês de carinhosas brisas espalhadas ____________________ sorria pelo Sul _____________ pelas papoilas escarlate _____________ com as azedas amarelas a baloiçar______________ hoje, não celebro o dia __________ antes a origem ____________ que naufragou antes do Inverno chegar_______________ porque navego por aqui _______ redemoinhando à tona da grandiosidade que me gerou __________ no seu rio ___________ em Abril.

 

 

[fotografia de Diego Sousa]

 

 

 

15
Abr09

quebrar

Paola

no vento desenho a fuga 

 

 


O vento fresco da manhã atravessou desavergonhadamente a janela… guarneceu o meu incauto e desnudado corpo com nítidas asas brancas. Matizou-as com delicados fiozinhos dourados roubados ao Sol… Libertou-me o cabelo das nuvens… A viagem aconteceu moderadamente. Num abraço de brisa fresca, percorremos as ondas do éter no manso fascínio da correria.

 

O vento, na mais límpida desatenção, largou-me num sopro perpendicular ao céu, numa verticalidade violeta. E o vento rodopiou por cima de toda a gente que encontrou. Rodopiaram as folhas e as nuvens. O Sol e as flores. Pedaços de mar e rios de amantes...

 

Mesmo que eu pudesse consertar a minha asa despedaçada, não saberia… o meu grito poisaria na sua ponta dorida e as penas vogariam na correnteza do rio…

 

O vento poisou. Serenou. Lambeu as feridas do meu olhar e pôs-se à janela...

 

 

[imagem da internet]

 

 

13
Abr09

bendizer

Paola

silêncios em caracol

 

 
 
- Bom dia!!!
- Vai chover.
- Uma saudação…
- Pois.
- Não retribuis?
- O quê?
- O cumprimento…
- Ah!
- Então?
- Não percebi.
- Bom dia!!
- O quê?
 
Desci as escadas a correr no silêncio dos meus passos… apenas os degraus roncavam espasmos de dor provocados pela corrosão do tempo e pela distracção derrotada… pelo aguçar dos sentidos a cada fenda vibrada… Estreitos para os meus pés, chiavam espantos como clarins ao alvorecer da batalha, para anunciar a manhã. As passadas desmaiavam pelas tábuas enegrecidas… sem corrimão. E era noite, mais quarenta e dois degraus… um salto e um vazio.
 
Desci as escadas sem vivalma para bendizer… Persuadida de que já não havia ninguém com quem pudesse falar… nas escadas comuns... como converso comigo própria
 
[imagem da internet]
 

 

11
Abr09

coleccionar

Paola

colecções de tempos sem selo
 
 
Lembro-me, particularmente, dos postais ilustrados… Chegavam daqui e dali, atulhados de afeições. Havia colorido, movimento de espaços e de tempos… que me abordavam em pedaços. Eu guardava-os numa caixinha para, sempre que tivesse sede, os acariciar… Subia montanhas. Percorria castelos e sentia o perfume das flores. Saltitava de mar em mar… e adormecia no areal. E as borboletas! Tantas que borboleteavam na caixinha de cartão... Era assim que eu percorria o tempo, nas noites frias de Inverno. No silêncio que assustava os dias… nas minhas confabulações.
 
Na verdade, não coleccionei nada.... Abrigo, ainda, aquele postal que me enviaste no dia dos meus anos… Duas rosas descoradas. Murchas. Desfazem-se se lhes tocar… partir-se-ão em bocados, vítimas de corrosão. Ignoraste que eu não gostava de rosas...  É um postal inútil… Não tem nada… escassamente tempo. O cheiro almiscarado do teu corpo há muito que abalara. Nem o reconheceria… mas pressinto o teu rosto pálido… aturdido… clandestino… Duas frases, quase ilegíveis, numa caligrafia apressada, deixam adivinhar incautas promessas... Entristeci de repente e rasguei-o. Acabou-se a colecção… A saudade é inútil e corrompe as mãos...
 
Na verdade, ninguém se magoa por coleccionar postais… mas fere a inexistência de escritores
 
[imagem da internet]
 

Pág. 1/2

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto. [Fernando Pessoa]

Arquivo

  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2021
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2020
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2019
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2018
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2017
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2016
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2015
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2014
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2013
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2012
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2011
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2010
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2009
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2008
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub