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ponto de admiração

ponto de admiração

31
Ago12

Ponto de exclamação [prefiro a admiração]

Paola

[Foto de Pour les océans]

 

 

Confesso a relevância do ponto final e o gosto de ter um sempre pronto para usar. Há contextos que o exigem. Mas desgosto-lhe a prepotência. Os caprichos déspotas e eu não queria o fim de agosto. Fica-me a beleza rendilhada da admiração.

 

Admirável ponto de exclamação. Cumpre-se no fim das frases. Na dissemelhança dos outros. Distancia-se das letras para se albergar no coração. E, com as mãos, enrola afetos. Em cada esquina do corpo, acha o sublime sentido da surpresa, admiração ou exclamação. Despe a sorte das emoções. Multiplica os sentidos sem que se exponha nas palavras. Todas não chegam, tantas são demais. Galanteia as lágrimas. Descerra sorrisos. Segura os silêncios. Para perpetuar o olhar. É um sinal. E fica na minha memória a beleza rendilhada que o azul burilou a ponto de sol.

 

Oh, quão doces são as lembranças da minha meninice!



29
Ago12

Declínio do sol [erros de agosto]

Paola

 

 Gostava de me empenhar e poder fazer o que agosto ainda não deixou. Andar para trás para calar o relógio. Atirá-lo ao chão e dizer-lhe que bastava de ladrões do tempo. Saborear o perfume da terra e lamber o mar. Colher um ramo rubro de papoilas e enviá-lo para o céu. Tourear um touro e cair na arena sobre o bruaá silencioso das bocas desconhecidas que poisavam nas bancadas. Calar o ruido dos ruídos de tantas vozes difusas.

 

Apetecia-me apanhar sol na proa da traineira e ver o sol a cair e não o poder ajudar. Saltar para o rio e molhar-me de muito. Chegar à meta sem querer dizer o lugar. E falar para no meio das palavras chorar o silêncio num eloquente e enorme discurso. Poder fechar aqueles livros. Com o mesmo desejo com que um dia os folheei. Erguer-me na proa da mesma traineira azul e morrer descansadamente. Na elegância do azulado do rio.

 

Queria, agora que agosto já não deixa, desviar-me. Sem que me molestassem. Ou quisessem ver-me muito longe de mim.

 

 

[fotografia de Pour les océans]

 

14
Ago12

No mar [à bolina sobre os rochedos]

Paola

 


fui até lá só para escutar o mar. e andar. foi uma viagem pequena pela margem dos abraços ao colo da maresia. havia uma delicada neblina que me aguentava de pé. olhos nos olhos com o vento que chegara antes de mim. as pessoas contavam vidas que eu não entendia. às vezes gritavam e eu não as ouvia. duas palavras roladas na areia. uma estava a mais. calámo-nos encharcados de azul. e lá do fundo vinha um canto doce. uma cantiga morna. tão quente.

 

fui até lá só para sentir o perfume que sobrou da pele daquela tarde. e vi que houve um tempo em que me escondia nos teus dedos não fosse a areia querer.

 

fui até lá para ver o mar. o barco já não estava à minha espera. apenas o mar atirava satisfeitos sorrisos indiferente a quem chegava. ou partia. e as ondas navegavam sozinhas.

 

fui até lá para me lembrar que roubavas o mar só para mim. no verão.

07
Ago12

Outra vez [na maré do pescador]

Paola

 


a traineira desbotada. o mar satisfeito na desigualdade do azul. o sabor da maresia. um abraço consistente. a dureza da sorte das marés. as mãos amansadas pelas cicatrizes. um mergulho danado. o suor que rega a agilidade do corpo. as lágrimas despejadas na areia. o colo do refúgio. um porto ancorado. o grito da gaivota. a noite escondida. a lua clandestina que cuida do espaço. o mar sem idade. o sol que nasce na barra. o cais da saudade. o retorno ao leme de uma imensidade amainada. a alcofa de peixe no chão. a riqueza na mesa. o medo quebrado. uma concha de pão com sabor a espuma que acaba na areia. o prazer do sal na boca do pescador. um emaranhado de malhas remendadas pela paciência dos dedos. na mesa a traineira corta a espuma da maré. a gargalhada imperial. e na minha língua a sardinha faz-se lenda. numa ancoragem de emoções.


03
Ago12

oração

Paola

 

 


imploro-te, doce senhora. o supremo encanto da tua sombra.

concede-me, senhora, o que me segredaste ao ouvido enquanto dormia.

 

rogo-te o verão colorido e o vento sereno. porque eu quero ser como o tempo. e desarrumar os meus dias. como as rosas perfumam as pétalas. e poder ficar.

 

 

 

 

01
Ago12

este azul que me pintou

Paola
[Fotografia de Jorge Soares]

Ai eu, venturosa, como vivo por aqui

Neste meu Sado que está longe!

   Tanto me falta, muito me faltou

   Este azul que me levou.

 

Ai eu, afortunada, como vivo em pacato desejo

Neste meu Sado que engana e não vejo!

   Tanto me falta, muito me faltou

   Este azul que me levou.

 

Ai eu, bem-aventurada, em desassossego estou

Neste meu Sado que me viu nascer!

   Tanto me falta, muito me faltou

   Este azul que me levou.

 

   Tanto me ampara, muito me amparou

   Este azul que me pintou.

(na brincadeira com D. Sancho...)

 

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Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto. [Fernando Pessoa]

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