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ponto de admiração

ponto de admiração

30
Nov12

Não vou à rua [para não me estorvarem os passos]

Paola

 


À noitinha, gosto de andar. Passadas ansiosas, mornas. Devagar. Dissolvo as horas, percorro a avenida guarnecida com linhas azuis vindas do rio. Atalho o tempo. Desfaço o espaço numa amálgama de aromas. Apago as sombras e os riscos. Gasto passos. E peço-te que não tenhas pressa. Que tornes aos gritos de outrora. Para irmos à feira voar no carrossel. Quero agarrar-me à girafa que teima em erguer-se na incerteza das voltas. Sentar-me no colo do cisne de brancos e quietos cantos. Quero as minhas nas tuas mãos reclamando palavras de algodão-doce. E prosseguimos num passo impaciente até à fonte que sustenta as verdes e bravas piteiras de figos açucarados. Eu gosto de andar. Correr pelo chão resguardado pelos versos dos poetas. Hoje não vou à rua. Não gosto que me obriguem a parar.


17
Nov12

Desenhos [traços de memória]

Paola

Agarrei num lápis de carvão, numa folha de papel muito branca e numa tranquilidade perturbada. Construí riscos. E fiquei sem tempo. Depois, apaguei tudo. Saíram uns traços. E acendi imagens que pernoitavam na memória.

A seguir, exercitei uns pontos. Ficaram umas reticências largas e dispersas. Entrou o sol, o azul e o mar. Uma escassa réstia de vento. Uma ondulação cristalina e uma traineira. Um areal.

Por fim, segurei num risco. Confundi-o num traço. Acrescentei um ponto. Percorri a folha numa volta deslumbrada. De um lado ao outro. Quedei-me na admiração!


(fotografia de Rui J Santos)



10
Nov12

Nós [eu nunca te pedi cordas azuis]

Paola

Eu nunca te pedi facilidades. Nos teus olhos dispus as imagens que moravam no meu corpo. Às tuas mãos atei  amarras de fibras trançadas de sol.

Na tua mão direita, lembras-te, erguiam-se cordas libertas da admiração. E o rio dançava musicatas azuis. Enquanto nos teus olhos passavam alegres composições verdes. A gente cantarolava ao som do violino que entrelaçava acordes perfeitos. Numa tensão afinada.

 Agora eu sei que o tempo enferruja o equilíbrio. E que os nós se agarram às cordas. E obrigam a habilidades de coordenação rítmica dos dedos. Cadenciada e com intervalos regulares.

Mas eu não sei como se desatam os nós. Nem tocar sem que um beijo se solte num sopro de sonoridades irrepreensíveis.




[fotografia de Hugo Colares Pinto]




03
Nov12

As pérolas [que fazem parte da minha paisagem]

Paola

Um pescador de passados, um papel e a paisagem. A ponte e a passagem. O palácio, as portas e as paliçadas de pálidas proteções. Pergunto pelos perdões e percorro pecados. E parto para próximo dos pedaços, porém com paisagens permaneço. Com paisagens me perco. Com paisagens me pinto. E pernoito. Nas paisagens me sinto e nelas me pacifico. E pinto papoilas na possibilidade pálida da planície. Um preâmbulo protetor.

 

Oh, pescador de passados, passa o poema que a poesia proclamou. Um pardal, uma ponte e um piano. Um projeto e um prazo. Pés de percetíveis pérolas que percorrem a minha paisagem.


[Fotografia de Vasco Ribeiro]



01
Nov12

mais nada [é a chuva que me devolve o tempo]

Paola

 

   Hoje, vou oferecer-te o meu suor gota a gota, para te lamber a pele. E ver o Sol. A Lua e as refulgentes estrelas num abraço profundo. Então, tudo fará sentido. Amarramos o tempo ao chão e inauguramos uma tempestade passageira. E bailamos os dois ao ritmo da fortuna enfileirada numa  doce melopeia.

   Agora, não me digas mais nada. Estou ocupada a ouvir a chuva a sorrir.



(Fotografia de Hugo Coares Pinto)

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Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto. [Fernando Pessoa]

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