com devolução de afectos - os bichos
Sont-ils en train de disparaître?
Os bichos são verdadeiros nos afectos. Oferecem-nos laços de ternura que transcendem a razão. Devolvem-nos carinhos. Os bichos não conjugam os verbos espezinhar, torturar, humilhar, vexar, rebaixar, oprimir, aviltar, silenciar, derrotar... A língua deles tem palavras e acções que se concretizam no amor. Os bichos só são artistas em palcos plurais por maldade humana.
Há bichos feitos gente. Bichos irmanados com os homens nas mesmas desgraças. Bichos que se confrontam com a ambição, com a injustiça diária. Bichos que reclamam por amor, carinho e ternura. Com sabor a terra. Com palavras de terra. Admiração pela vida.
Bichos que se revelam na leitura, ou releitura, de Os Bichos de Miguel Torga. Bichos também nós somos.
Hoje, talvez porque os humanos estão cada vez mais privados de meiguices, decidi dar-vos mimos. Muitos.
Desejo a você...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel...
E muito carinho meu.
Carlos Drummond de Andrade
(imagem de portus callosum)