pilar
Hoje é sábado. Com arroz-doce ornado por risquinhas de canela e apimentado com cantigas de escárnio e maldizer. Poemas ditos aos intervalos porque a refeição teve um extra de luxo. Gargalhadas poucas. O garoto está no rescaldo de uma boa dose de escarlatina. Dois parques infantis. Com as entradas todas a que ele tinha direito. Baloiço. Adorou. Escorrega. Nem pensar. O Sol nascera arrojado. A manhã antecipava uma qualquer tarde de um Agosto escaldante. Hesitou entre carros. Helicópteros. Cavalos e golfinhos. De madeira e bem coloridos. A todos queria, a todos recusava. Entusiasmava-se com a relva. A alegria estava murcha. O calor começa a escorraçar-nos dali. Ali e além, um pedaço de céu dava uma cambalhota . E as nuvens acinzentavam-se. E naqueles admiráveis olhos azuis surgia a convicção que haveria mais manhãs. Sem nuvens. E haverá!
Mudou o cenário. Uma criança não está para se confinar ao primeiro espaço que lhe apareça. Tantas descobertas para fazer. Tanta vida para viver. Outros baloiços. Que a vida também tem correntes. E oscilações. E caos. Bonanças, também. Tristonha por causa da escarlatina. Que deixa marcas no corpo. Um estreptococos obtuso e desnorteado que parou por ali. Que lhe roubou alento. Contudo, brincou e nós brincámos com ele. Depois adormeceu. E foi para casa. Para dormir e sonhar que amanhã também tem manhã.
E depois mais isto e aquilo. E ela disse que sim. A outra disse que não. E elas que não sabiam. Mas ele ordenou que sim. O melhor é não valorizar. Concordo! Nem penses, não faz qualquer sentido. Nunca mais se endireita o mundo. Pois é, o mundo é grande e redondo. Escorrega-nos das mãos. Está muito calor. Ainda por cima não pára quieto. Isto do mundo estar sempre a rodar é mesmo uma grande maçada. Verdade, mas a Terra gira simplesmente porque ainda não parou de se mover. Vai girando e, em certos lugares, passa a ser noite quando era dia e, noutros lugares passa a ser de dia quando era noite. Sem nunca parar! Tudo ao contrário. Insatisfações descontinuadas. Impetuosas, no entanto. Mais de dia do que de noite. Prosas de quem aproveita o sábado para se desembaraçar de palavras daninhas.
Movimentos giratórios. Em torno do Sol. Lisonja terrestre, certamente. A terra não deveria ser assim. E há quem não desista de forçar a linha imaginária. Não percebem que a verdade não rima com bajulice. Um pilar auxiliaria! Um pilar é um elemento estrutural vertical. Ela é. Uma coluna. Um elemento arquitectónico. Porque esteve. Também o é. Porém pilar é melhor. Só por ser mais resistente. Também.
Os pilares têm vida. Cansam-se. Têm direito a morrer de pé. Sem se ajoelharem aos pés de satélites artificiais. Corpos estrategicamente colocados em órbita ao redor de planetas acidentais.
E vai para casa. Não com escarlatina que é doença de criança. Vai com o corpo contagiado por ingratidões. Do Sol. De mim tem agradecimento.
Não sei, não! Um bom pilar faz sempre jeito. Dá estabilidade. E mais equilíbrio...