chorar
tudo tem um fim
lágrimas com raízes
Nestes últimos tempos tenho-me sentido uma árvore que chora. Um tronco afogado em desencantos. Folhas que escorrem lágrimas ensanguentadas. Ramos contorcidos pela dor. Raízes que vivenciam angústias e tristezas. Uma árvore que agita descontentamento e desconforto. Às vezes disfarça. As ramificações abafam prantos e lágrimas que caiem quando o vento sopra mais forte. É ela a descarregar a mal-estar das emoções e dos reflexos interiores.
Queixumes contidos para que não constem como indecências públicas. Particularmente, para não ultrajar os sorrisos. As gargalhadas. Para evitar meneios estúpidos e rebolados. Compressões convulsivas com lágrimas e mucosidades dispensáveis. E são pacotes e pacotes de lenços de papel desbastados. Assoadelas grotescas e soantes. Gritos de raiva. De impossibilidades indignadas.
A vida é mesmo macabra, confirmo. Imaginar mundos cruéis lá fora para quê, se os tenho aqui? Se os avisto ali? Quero lá saber se o mundo está coberto de formigas e se o Mar Morto está vivo, mas não têm vida e o sal é um excesso! Os motivos do meu choro são meus. E quando choro não penso no mar. Quando choro as lágrimas brotam de dentro. Do fundo de mim. E é por isso que levo as mãos à cabeça na vã tentativa de esconder o rosto que chora também. Sempre que lhe apetecer.
Hoje chorei. Gargalhei e alegrei-me. Há muito que não lacrimejava com tanto gosto. Foram lágrimas sem dor. Mas de amor, de cumplicidade. Do enorme prazer que advém quando se admiram olhos brilhantes de regozijo e orgulho. Acabou o ciclo. Cumpriu-se a missão. E recordam-se momentos.
Hoje partilhei sucessos. Juro que tenho a barriga cheia de êxitos. Meus. Pessoais porque deles também. Sobretudo deles que foram fantásticos. E nos afectos que trocámos. Fizemos tudo a que tínhamos direito. E tudo é tudo, ponto final. Excelente e Muito Bom! Apenas Bom. Outras vezes suficiente. Algumas Não Satisfaz? Seguramente, mas não acredito.
E que importância tem se, hoje, pudemos exibir as nossas lágrimas de vaidade? Hoje, chorei sorrindo. São estas lágrimas que alimentam as minhas raízes...por isso, ainda não secaram.
Nota - Vou ter saudades de uns quantos. Porém, é dela que mais me vou lembrar. Porque sim! Da minha admirável A.R.G. esmurrada brutalmente pela vida…E do sorriso dela e dos poemas que ela escrevia. Depois lia e chorávamos as duas. E os outros choravam também…
fotografia de Paola