segredar
de João Palmela (Arrábida, Setúbal)
Se eu pudesse, descobria um caminho só para mim. Um trilho para a ilha deserta que há ali. A ninguém diria o caminho. Depois, construiria um castelo para ouvir o mar. Era um segredo que de todos calaria, porque o silêncio é escasso por aqui. Apenas para mim e muito belo.
À sua volta estariam plantas, flores e árvores com ninhos de alegria. A ninguém diria. Acessos sinuosos, ruas labirínticas, carreiros muito estreitos, silêncios canoros bastantes para os amantes. E nós faríamos amor todas as manhãs. Como o mar e a areia. E o Sol. Vendava-te os olhos, enrolava-te na minha paixão, dava-te a mão... O caminho? Não to diria, não!
E os outros, se assim entendessem, apregoariam a minha morte. O meu naufrágio. E eu, ávida e esfomeada, viveria a êxtase da beleza. De uma terra que é minha. De uma serra que é mãe.