sachar
A minha infância teve um sacho para brincar. Andava sempre um lá por casa, o que me permitia sachar. E lá saltitava eu de buraco em buraco. Por causa das minhocas. Das formigas de asa. Coisas muito necessárias para as ratoeiras. Às vezes fingia que sachava. Mas não, apenas brincava. Sobretudo quando chuviscava. E tanto que eu gostava! Os meus tenros anos têm o perfume de terra molhada. E eu carregava frescas pegadas do medronhal, enquanto o meu sacho saracoteava com alegria, dando ares de pessoa crescida, na mais estéril imitação da enxada.
Hoje, os meus pés carregam saudade. Perfumados com memórias da minha infância de uma terra molhada com o café da minha avó. Da cafeteira esmaltada de azul. Da cor do rio que acontecia lá ao fundo.
A minha infância teve um sacho. Para revirar a terra e cheirar-lhe o corpo. E arrancar as ervas daninhas. Dessas, não me lembro. Não tinham cheiro. Não têm perfume. O sacho tinha.
Maldita sibilante e a palatal também. Francamente! Só faltava aparecer para aí um D. Sancho qualquer para me atrapalhar a articulação!