combalir
da Internet
No mundo há seres humanos. Um mundo colorido com as cores todas que o mundo tem. Com cantos e recantos. Tantos que nem sei quais. Eu tenho o meu cantinho. Às vezes, perco-me nele. Calcorreio caminhos. Trilhos e avenidas. Veredas e rotinas. No entanto, o que mais gosto é de subir ao monte. Fico mais próxima do céu. Conto as estrelas e afago a lua. Ao sol não faço nada. Ele tolda-me a visão. Ao rei presto vassalagem. O meu olhar vira-se para baixo e vislumbro o mar. Tão largo que banha o mundo inteiro. No monte eu posso reaprender a ouvir o canto dos pássaros. E redescobrir flores a desabrochar. Aceitar a dávida e lamentar a efemeridade da beleza. Da vida. Também, quem sabe, adivinhar o sorriso doce da criança que cresce como a flor. Sentir a força da amizade e o prazer da cumplicidade. Sentir o vento e gargalhar, antes que me congele o coração. Ou me emudeça a voz. É um sopro que desce da colina. Corre pela encosta e arrebata o ar em movimento. Desafia o frio e alguns calafrios. No monte, gozo de abrigo e digo que outros ventos virão. Que ao amanhecer, brisas suaves chegarão com contentamentos na mão. Ou não!
Na minha cidade o vento tem temores e faz o meu cabelo dançar. Agitação fria que não deixa ouvir os gemidos. São corpos enfermos que gritam dores silenciosas. Erros ortográficos que o vento gerou. Males vindos de longe ou daqui. Fragilidades copiadas dali. Promiscuidades terrenas. Cópias arrebatadoras. Progresso tirânico que não ouve o vento! E vulgariza as dores ao ignorar humanidades.
Na minha rua as pessoas têm rosto. Aqui o vento não desce pela colina. Trepa-a e fala crueldades. Geladas. São os ventos de hoje que semeiam fraquezas humanas. Combale e deprime. Porque o Mundo não goza de boa saúde. Está debilitado. E muito angustiado.
Na minha rua os riscos amarelos são amarelo-desbotado. E todos os dias há mais um… Eu detesto que risquem a minha rua deste modo. Fico muito combalida. E tenho para mim que a culpa não é do vento. Ele só assiste ao temporal. E Deus? Ele sabe que as crianças não desenham assim. São os adultos, Senhor!
Ao sábado não riscam a minha rua. Por isso, vou comer arroz-doce. Antes que a tracejem para mim.