chover
da Internet
verdade cor d'água
Lá fora, a chuva chove miudinha. Ouço-a com o meu corpo inteiro. Sinto-lhe os afagos afeiçoados. Gosto dos beijos tranquilos com que orvalha as minhas mãos. Do enleio apaixonado fluindo pela avenida. Dissolvemo-nos num único bailado. Num só e apaixonado acto. Assim, de mão dada. Ela caminha a meu lado entoando ladainhas do provir. E é na verticalidade do seu cair que eu multiplico os meus afectos. Os beijos molhados autenticam o nosso amor.
E fecho os olhos... instala-se a incapacidade de dizer. E num implorado sossego, são os sonhos que vertem ruídos pelo alcatrão. As gotas dela são as minhas lágrimas que se confundem na ternura atrevida do seu olhar. Sinto-lhe o sabor na minha pele e os meus olhos mendigam desejos dissolvidos antes do nascer do Sol. Amo-te...
Oiço um caminhar apressado. Passadas largas dispersam-se na calçada à procura de espaço... Uns olhos verdes espreitam-me na obliquidade do chapéu-de-chuva. Sem dizer adeus, omitem o antes que choveu. Enlaço-me na verdade da chuva... aconchego-me no seu peito e danço com ela. Rodopiamos até de madrugada. Depois, esvaio-me em cansaços e adormeço esgotada. Desenrosco-me pela manhã.
A chuva cai... A chuva só pode cair de pé. Pela sua lealdade. Se não fosse, não tombaria assim. Venturosa água que me encharca a alma. Que lava o sangue espargido no chão... Seja chuva, assim na terra como no Céu!