29
Dez08
resmonear
Paola
da Internet
Ao mesmo tempo que o frio rasga a pele, a chuva lambe-me as feridas e a dor cala-se num grito que dói. Com paladar a beijos indiferentes ao ar enregelado que sopra com rudeza. São afectos do longe, lá de cima… Bátegas de sustento que chegam à raiz. Aguaceiros de pão abeiram-se das folhas decadentes que se cumprem ao ritmo do vento. Gotículas de subsistência entranham-se no sôfrego tronco e o arco-íris denuncia o roubo das cores com um sorriso complacente.
A chuva chega ao rio. O rio começa a correr e eu persigo a água na expectativa de semear frutos que me abalaram do ventre. Sento-me, devoluta, e espero. Espero tanto que o vento amansa e, mesmo ali, pinta um retrato que aprimora para mim. Quando olho para a água, são os olhos deles que refulgem na escuridão. Então, vou ficar à espera que eles desabrochem, continuadamente.
Já vai longo o dia. Chove normalmente. Amanhã, não sei se volta ao normal. Nem sequer percebo nada de normalidade. Amanhã é o dia que não se tem… é condicional, mas vou continuar a esperar como se fosse futuro.
Não vou resmonear contra a chuva que não tive... Hoje, sinto-a a bater obliquamente no meu rosto. Escorrega pelo casaco e os seus dedos fluidos suspendem-se na bainha encharcada. Dali, pulam para o chão… Não vou resmonear contra a generosidade do Inverno… Apenas o injurio... porque afoga a chuva no rio.