25
Jan09
percorrer
Paola
Setúbal, Convento de Jesus
Debruçada na janela que se esgaça em mim olho para o mar. Sem razão especial, apenas para ver o mar. E sempre que olho para o mar, é o rio que vejo a navegar. Serpenteia medos no percurso que o conduz, mas ousa olhar para trás. O rio corre na incapacidade de recuar e, decidido, confunde-se na vastidão do mar. O rio sabe que continua a ser rio. O oceano é que é o mar. Irmãos de sangue, devoram-se numa corrente contínua. No limite do abismo.
Olho e alegro-me por não o poder parar. Feliz por não o terem forçado a correr em linha recta. Porque não há rios iguais. De Sul para Norte. No lado de cá.
Depois, quando fecho a janela, faço carícias ao rio que vive longe de mim. Iço as velas e faço-me ao mar… pela rota da canela. No arroz que é doce.
Vou vendo e vou meditando,
Não bem no rio que passa
Mas só no que estou pensando,
Porque o bem dele é que faça
Eu não ver que vai passando.
Fernando Pessoa
Às vezes, quando penso no rio, uma lágrima desagua no mar...