14
Fev09
desnudar
Paola
as árvores morrem de pé
As árvores atravessam a inclemência do Inverno nuas e desgrenhadas. Desprezadas, choram lágrimas transparentes.
As árvores revigoram-se em ventos de silêncio. Apesar do frio, renovam-se na vida calada que carregam no ventre. Abraçam-se aos sonhos na perseverança de serem flor.
Silfo desposa as árvores desnudadas e deslumbra-as com pérolas de chuva. Elas descalçam-se no solo húmido e entregam-se num imenso desejo vital. Porque o amor exige a alma despida. Ele, esgotado, deixa-as ser. No gozo do infinito.
As árvores reaparecem sempre com um sorriso nas raízes. Com gestos de força, acenos de estabilidade e rebentos de paciência.
As árvores fingem-se mortas, para que possam cumprir o milagre da ressurreição. Outra vez. Mais uma vez. Sempre. Eu admiro-lhes a tenacidade. Um dia, também ressurgirei no infinitivo do porvir. Aquietada pela paz que reinventarei.
nu natural
fotografia de Paola