pairar
Daqui vejo um rio… Imagino-o demorado e sinuoso. Atrapalhado na volúpia da foz. Vejo-o sossegado e domado. Só que não é o rio que alimenta o meu sangue.
O rio que não vislumbro daqui é mais azul. Oiço-lhe o cantar… saboreio-lhe o gosto de gostar. E deixo que ele me deslumbre… sinto-lhe o calor dos afectos a encharcar-me o corpo. As mãos ávidas de mim… e cedo aos seus queixumes.
As gaivotas do rio, que nem sei se existe, gritam desvarios em terra… e sempre que ouço uma gaivota a amaldiçoar o rio, pressinto que já não pairam gaivotas no rio que não vejo daqui…
O rio que não contemplo acontece. Bem ou mal, escorrendo pelos lençóis de fado deste leito ressequido… até ao dia em que lhe rasgarem as margens.
fotografia daqui