13
Mar09
dessintonizar
Paola
Sugestão de fim-de-semana
Ame muito. Peça boleia. Estranhe-se. Case e descase. Escravize-se. Escreva um livro e leia outro. Sorria. Regue as flores. Cante. Acorde os vizinhos que lhe empecilham uma morte quieta. Pule a cerca e beba chá. Não toque na caixa do correio. Cometa erros. Assassine saudades. Sacie-se de si. Esqueça a bomba e as metralhadoras. Dispa-se e vista perfumes de paladares para os quais nunca olhou. Agarre os pedaços de solidão que vadiam pelo chão, coloque-os numa caixa de cartão, não vá, um dia, precisar. Ame tanto, ame sempre. Sem se assustar com a perda. Saracoteie languidamente o corpo. Salte no trampolim e agarre o céu. Permaneça torto no seu canto. Despreze a estrondo do tiroteio que acontece no andar de cima. Feche os olhos à sujidade do mundo. Reze e blasfeme contra o presente imperfeito que o coagem a aceitar.
Sintonize-se com a música. Com os livros. Consigo mesmo. Respire fundo, dessintonize-se. Aferrolhe a porta não vá o vento caber. Tome conta da roupa da cama. Dispa-se com cautela. Sossegadamente, para não arranhar a pele.
Faça tudo como se fosse a primeira vez. Ria com a sofreguidão da última… mas dessintonize-se.
Não corra. Para quê tanta pressa? Segunda-feira, quando sair, verá que a terra não se desintegrou... nem se lembrou de si. A morte de uma pessoa apenas é desgraça no miolo da dor... nos jornais é sempre estatística.
[fotografia da internet]