vestir
verrmelho a_paixão
Ela trazia calças de ganga azul-amortecido. Uma ampla camisa branca-devassada. Botas de camurça preto-quebrado. Os cabelos amarrados com sombras cinzentas. Naquele tempo, ela desnudava-se de aparatos trajados.
Um dia, encontraram-se no olhar, à hora de almoço. À noite, deram as mãos e amaram-se até de madrugada. Como o Sol ama a Lua que se pôs a chorar. O Sol garantiu que não. Que todas as noites dormiria sobre o seu corpo até ele acordar. A Lua tornou a chorar. O Sol não lhe deu razão. A Lua chorou mais uma vez. Mediu a distância e num segundo pressentiu o caos. E o pranto foi tamanho que todas as constelações soluçaram também. As lágrimas de Pégaso galoparam pelo céu, por tanta incompreensão. Mas todos souberam que Perseu e a encantadora Andrómeda também se desejaram.
Agora, ela veste-se mais bonita. Só enverga vestidos-paixão. E tenta voar…
[fotografia de Alberto Seveso]