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ponto de admiração

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19
Abr09

re-editar

Paola

o meu livro é da cor do azul-rio
 
 
Um dia, alguém me escreveu. Páginas e páginas de letras delineadas com emoção. Muitas ilustrações preparadas com mãos de sabedorias de bem-querer! Tantas paisagens em que eu me reinventava. Outras desenhadas só para mim. Predominava o azul do meu céu que vai do lado de cá até lá… E eu não sei em qual das margens o azul é mais estendido… o sol, esse brilha mais do lado de além… Onde os poemas conversavam pacatamente com a alegria da concertina… Onde a melancia se desventrava no deleite encarnado da abundância… Onde a batata era doce e se desfazia em cuidados ao calor do lume que crepitava na chaminé… e o café pululava na cafeteira de esmalte azul… A minha paisagem tem os sabores do lado de lá…
 
No sábado, reescrevi um capítulo do livro… de ruas e vielas. Aperfeiçoei algumas imagens já amareladas por tanto tempo sem ver… Unicamente eu as vi, porque só eu as posso ver. As que estão, não são as que eu desenhei… Ali mesmo, na praça pública, escrevi mais poemas… memorizei-os todos… para que os possa dizer de cor… ou não. Vou guardá-los no meu olhar…
 
Não! Não os vou parafrasear. Estou deslumbrada com as palavras que inventei... Oponho-me a dissecar poemas. Afasto a hipótese de humilhá-los com um esgravatar feito interrogatório de motivos, consequências e deduções… Não lhes quero engendrar vontades que já esqueci e que nem sei se desfrutei. Recuso intenções que ignoro, embora minhas, neste tempo que não é mais o outro… Se leio um poema, perco-me no sentir… e gosto. Quando não gosto viro a página… E neste livro comum, a que chamo vida minha, a poesia não quer leitor… até eu me confesso incompetente no meu analfabetismo funcional… Foi escrita sem motivo e não quer entendimento...
 
 
O livro, que me escreveu, pereceu às pegadas do tempo… e eu mais não sou do que um rascunho mal acabado… Regressei a casa, onde, na calada da noite, o vou re-editar... 
 

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Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto. [Fernando Pessoa]

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