23
Abr09
clarear
Paola
o negro da noite dissipou nuvens assustadas
Mesmo que o preto não seja uma cor. Mesmo que carregue cicatrizes imperecíveis. Mesmo que faça na minha noite desenhos a carvão, eu quero-o.
Por isso, desfechei todas as janelas. Quebrei os ferrolhos, rasguei os cortinados, estilhacei os vidros martelados de aflições… E de tanto as escancarar, a minha casa já só tinha janelas…
E da janela, que é a minha casa, o preto foi a cor que lá estava. Esplendorosa na delicadeza das estrelas. Feminina no rendilhado das feições … Contornos soberbos… Com grandes curvas, bem definidas e numa bênção celestial, descobriu os seios tão definidos… agora nus de uma folgada blusa preta com florinhas deslumbrantes.
E pela janela, que é a minha casa, eu vi aquele negrume tão belo… e num gesto irreflectido entreguei-me na condição da inteira ausência da dor… na certeza que o preto é tão-somente uma cor. Ali, naquele mesmo instante, na alegria da noite, o preto tornou-se numa das cores mais claras que já vi...
(imagem da internet)