Sonhar [acordei cedo.muito.tanto]
Sonhei na quietude do meu sono. Acendi a luz, para o olhar nos olhos. Envolvê-lo nos meus braços desnudados. Ri. Tanto. Tanto. Muito. As gargalhadas rebolaram pelo chão do desfalecimento, redizendo estouros da insana ambição. Naquele instante, percebi que as minhas mãos desapareceram… e arrependi-me de ter acordado sem vontade de acordar. Só o queria ter… Abraçar os seus pés e caminhar neles.
Agora, apenas me recordo de metade. De quase pouco. Lembro-me de tudo. Tanto. Tanto. Muito. E no leito do meu rio, as ondas desarranjam-se em soluços remexidos. Aqui. Lá longe. Na claridade do Céu. Azul.
Que ave foi aquela... cúmplice, carinhosa, companheira, espontânea... que adoçado trinado motivou a cobiça dos ventos e afrontou os trovões? Que ave foi aquela que não ultimou, no seu sono, o sonho que esvoaçou? Aquela foi a ave que o meu sono acordou… e que em tempos discursou sobre a fragilidade das multidões.Tudo passa.Tudo passa. Tudo passa... Aquela foi a ave que o meu ombro serenou..
(fotografia de Paulo Santos)