08
Jun09
Arder [entre o vermelho e o verde do fogo da pele]
Paola
Das ervas desejaram o Sol. Na avidez do mais. Na renúncia do nada. Famintos, exultaram sedes insaciadas e beberam tragos de prazeres camponeses. E os corpos atreveram-se a querer. Cobertos de papoilas, na maleabilidade do vermelho. Ébrios, elevaram as taças do ópio e saudaram o infinito. Devolveram os beijos num ímpeto de raiva. Entregaram os corpos num enleio profundo. Tocaram-se com estremecimentos acetinados, bordados com mãos de alecrim. Perdidamente, no prado com cheiro profanado. No beco onde os poetas seduzem as palavras. Enfeitiçam os versos e o vento põe-se a bailar. A brisa corria na tranquilidade da utopia, num trilho de silêncios mordidos. Só as papoilas ousavam entoar maviosidades carminas. Eles consumiram-se e voaram. Na sinestesia das colinas que ladeavam o vale.
As asas atearam-se no vermelho quente do Sol. Tão quente! Quiseram, um dia, escalar o Céu. Experimentar voos proibidos. Quentes, mais quentes. Sempre no vermelho dos corpos esfomeados. Sangrentos. Mas as asas não suportaram a subida… e esmoreceram num chão de papoilas. Na desobediência a um sinal vermelho. Que disseram verde no delírio da transgressão. No prado… à beira da voragem da vida. Ali, onde as rugas que vincam as asas sorvem os alucinantes licores das papoilas. Na demanda da cura.