estranhar [na passagem das nuvens augadas]
Ele estava ali. Na verdade, estranhei. Calado e amargurado. Bravio na agressividade que amansava com os dedos irritados pela insatisfação. De vez em quando, espreitava por cima dos exasperados pardais enxovalhados nos beirais dos telhados.
Ali, estava ele. Estupidamente sombrio. As nuvens. Uma a uma, ele as contava. E descontava-lhes as figuras depravadas que mostravam. Descobria-lhes assíncronas vontades. Nos olhos, destapei-lhe as arritmias lascivas que teimavam em ripostar.
Naquela tarde, eu tinha que o deixar descarregar nas nuvens. Permitir que as atingisse na loucura que ousavam. Nas indecências que escreviam. Assim, num bilhete ardente de cinzentos imprudentes. Comprazer-se na indecência de as esmurrar. Pela leviandade dos baixos vícios. Pela grosseria das fagulhas que troavam gemidos espavoridos. Tinha! Mesmo que, na extemporânea trovoada da perversão, as nuvens ficassem.
Naquela tarde, não deixei! As nuvens não tinham culpa de carregar projécteis impacientes por outros ventos. De não saber cair inteiras. E ele sangrou. Para não se magoar. E chegou lá com os pés no chão. Então, reparou nos pedacinhos de azul que esperavam um poema favorável. E sorriu. Com gentileza.