tecer [amor ao ritmo do picar dos alfinetes]
As mãos urdiam tramas de cavalos alados que galopavam pelo seu corpo de pálidos desenganos. E voavam na alucinação do poema. Os dedos da fazedora de laços coravam nos embaraços das linhas. No corpo delineado nas nuvens, ela compunha-lhe rosto. Num cartão perfurado por lágrimas de determinação, o desenho da renda sobressaltava-se nas ternuras da pele. Um minguado calafrio percorreu-lhe o olhar. O tilintar dos bilros assinalava o ritmo das mãos da fazedora de desacertos. Na volúpia do fogo, as suas faces purpúreas queimavam-se ao ritmo que a imaginação criadora progredia. O trabalho crescia nos pontos desenhados no vazio do tecido. Bruscamente, na desconsentimento da exposição do luxo, emperrou. Ela emaranhou os fios abolorecidos para o cavalo não saber. Despertou os alfinetes. Depois, rematou as pontas e fez-lhes um nó. Eis a obra. Acabara de tecer a fonte inspiradora dos poetas... na mentira rendilhada da insipidez água.