01
Ago09
subir [o caminho inclinado]
Paola
Ela subia a calçada ao ritmo do andamento das marés. Acompanhada pela ténue luz da lua. No corpo, levava a ondulação do vento. Maresias de palavras naufragadas. Com as mãos, abalroava dunas de doces ventanias. Nos cabelos, resplendecia a derrapagem das gaivotas. Pulava naufrágios e destroços. As pontas dos dedos pegavam pedacinhos de horizonte. E migalhas de espuma recebidas à noitinha. Içou as velas. Entrou. E amainou o seu incerto navegar. Talvez um dia as perguntas, que ainda constrói, desapareçam.
Na ombreira das portas, as mulheres salivavam desinteresses desfeitos nas bocas deslavadas de inveja.
No postigo das portas, os homens lambiam-lhe o andar. Sempre que subia aquela calçada, ela calçava sapatos de licor de amora.
[imagem da internet]