abraçar [um momento de saudade]
A menina saiu da escola nuns sapatos abotoados na pressa. Alta na desenvoltura dos seus verdes anos, arrastava um sorriso da cor dos cabelos. Que o vento puxava. Com carinho não fosse a menina sentir. Bonita. Com a beleza que a idade lhe dava.
Corria determinada. Passadas doces estrondeavam tédios e algazarras que não cabiam na mochila espessa de pesos acarretados todos os dias pela manhã. Mas moída. Ouviam-se as dúvidas ofegantes que lhe corriam pelo rosto corado. Tanta pergunta para tão pouca resposta! E a menina encostava-se, enfadada, à parede. E os seus pés escorriam até à rua. Depois, ausentavam-se pelo discurso do portão. Sonhou com ele. Sem que lhe descobrissem o desvario. Um beijo num abraço minguado. E riu-se da inveja das outras. Sentiu-lhe os dedos que percorriam o seu cabelo da cor do trigo que germina nos campos da mocidade. Lá em baixo, à esquerda. E lembrou-se do passeio à beira do nada. Que lhe pareceu tanto. E sem que ninguém visse pendurou-se no pescoço dele. Pediu-lhe que a tirasse dali. Que a parede estava fria.
Já na rua, correu na direcção de um carro que a esperava. Com a saudade nos braços que se lhe estendiam. Descaradamente. Ridículo, apostrofava. Um abraço, dá-me um abraço. Aqui não!!!! Na escola? Ridículo! A mãe recolheu os braços. Como um mastro que se acanha à passagem do vento.
Subitamente, senti frio. Naquele lugar público bafejado pelo sol de início da tarde. Olhei para dentro de mim. Faltavam-me os braços que em tempos se entretinham com os meus. E me abrigavam do frio. Naquele lugar, o meu rosto foi um gesto. Atónito à procura de tudo. Um riacho de luz. O tecido dos afectos. Ela. E as mãos que se interromperam no momento do afago. Perfeitas no tecer.