No tacho [da minha infância e adolescência]
Gosto de caracóis. Porque têm cara. Colo e muito sol. E com eles chega as mãos da minha mãe. Que persistência ela punha para que os meus fossem os mais penteados e arrumados da sala. Depois, ao domingo, saímos em fila pelo carreiro das salinas. Regressávamos a casa. E era o meu pai que os preparava. Nós comíamo-los num abraço profundo. Eu sei que não devia. Talvez, nem tenho bem a certeza. Isto de comer animais dita apreciações divergentes. Confesso que não tenho culpa que a palavra me encha a boca de orégãos. Muito menos que os bichos não revelem habilidades físicas excecionais e que fiquem rapidamente afastados de qualquer êxito desportivo. Incautos e ingénuos acreditam que o Sol nasce para todos. Quem lhes terá dito que deveriam pôr os "cornos" ao abrigo do dito? Não é um assunto pacífico. Não é... E os caracóis têm cornos? Apêndices, antenas... Vai dar no mesmo. E são ranhosos!
Um pires de caracóis com duas cervejas, por favor.
(Foto da Internet)