Sardinheiras
O roxo alastra-se pela alegria do vinho num copo descansado no alabastro do dia. O jornal cai pelo chão amarrotado pelo deserto das notícias repisadas e os teus olhos perdem-se na contemplação do tempo que escorrega pela ladeira ornada de sardinheiras vermelhas. São flores sentadas nos postigos das velhas que se benzem e cantam rezas muito restritas e pendentes nos retratos alinhados em cima das cómodas. São memórias de sombras vagas que lhes definem confortos do luto dos vinhos.
E tu seguras as paredes nuas do quarto. Sentes a ausência das lágrimas. Pensas que a pele é insuficiente para absorver o líquido que escorre do copo. E sais. Lá fora estugas o passo. Enquanto eu arrumo os copos já esquecidos do momento. Apenas as sardinheiras exultam o esmero da cor.
(Fotografia da Internet)