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ponto de admiração

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30
Jun08

vulgaridades

Paola

h  férias de assuntos sérios

 

Apetece-me escrever sobre o tempo. Dizer que está bom. Agradável, apesar do calor. Que o Verão, este ano será muito quente. Nunca se sabe. Se calhar em Agosto vai chover. Não, não vai. O mais quente dos últimos anos. Enfim, repetir banalidades. As férias estão quase aí. Fantástico. O Algarve também. Eu não vou, fico por aqui. E tanta gente que vai de férias. Até para o estrangeiro. Até para Porto Santo. Duvidam-se das fantasias estivais. O país está a pedir. Não se percebe tanto luxo. Só para uns que os outros vivem o ano todo sem alternativa. Não às férias, mas ao emprego. E as férias mais não são que o intervalo na vida da gente. Uma pausa desnecessária para quem não tem tempo para elas. Afinal, o trabalho já falta. A inflação é tão alta. No entanto, o congelamento refrescou os corpos.

 

Apetece-me escrever sobre Agosto. Um mês com dias suados. Dias neutralizados por um país a correr para o sul. Às vezes sem norte. Sabe-se lá a sorte que essa gente tem. É preciso fingir. E Agosto é um mês despido de preconceitos. Faz topless. Aventura-se nu em lugares recônditos. Para que ninguém o vejo e não saiba o que vai para aqui. Porque a tanga não beneficia todos os talentos corporais. É tempo de anunciar aos vizinhos que as férias são ali e acolá. Reinventam-se os destinos dos outros. E corre-se para baixo. Ou fica-se por aqui. O carro é novo. Há que gastá-lo. Vai-se à terra, como quem vai para outro lado. Por imposição, por convenção. Agosto é um mês de imperativos a mostrar. Agosto tem tempo para espraiar males sociais.

 

Apetece-me escrever sobre o cão. Não posso. Afinal, o bicho é uma cadela. De passeios ao fim da tarde. Muitas vezes contrariados. Ela quer eu é que não. Outras pela manhã. Ela quer sempre eu é que nem por isso. Mas vou. Estorvos caninos. A culpa não é dela. Sou eu que quis. E ainda quero. E finjo uma contente digressão. Toda a gente aplaude. Pois é! Tem que ser. Cumprimento este e aquele. Fala-se de raças. Os bichos partilham cheiros e ladridos. Dizeres aparvalhados. Afectos autênticos. E ambiciono ser cão. Cadela é que não. Trocam-se amabilidades habituais. Circunstâncias entre amos de animais, enquanto os bichos se farejam.


- É cadela?
- É, não tem mal. Ladra grosso, mas até gosta de socializar com eles. Só quer brincadeira.

- Mas é cadela…

- Pois! Cadela com cadela não resulta muito bem.
- As mulheres também são assim… cadelas umas para as outras.

 

Não entendi. Está calor. Passo para o lado de lá. Pela passadeira, não concluam os carros que fui de férias. Olá, boa-tarde. Então por aqui? E as férias. Só em Agosto. Estão quase. E o cão adora praia. Já nada muito bem. Que bom para ele, pensei.

 

Apetece-se escrever sobre frivolidades. Inutilidades diárias. E ler revistas coloridas de rosa. E de azul com muitas fotografias. Saber da vida dos insignes. Invejar-lhes as casas. Mesmo que só no Verão. Cobiçar-lhe os iates. E o mar. Suspirar pelos vestidos com alças muito fininhas e querer roubar-lhes a pele tisnada pelo sol da Polinésia Francesa. E os sorrisos compostos para cada uma das páginas.

 

Sempre que eu escrevo sobre vulgaridadess, a minha cabeça só pensa em vulgaridades. Por isso, é que me apetece escrever sobre vulgaridades. Se eu escrevesse sobre assuntos grandiosos, teria que apostrofar a vida. Que é mesmo macabra. Ruim. Turbulenta. Cadela! E chorava. E não me apetece.

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Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto. [Fernando Pessoa]

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