poder
não coma mais colesterol
Um sábado gostoso. Passado como quem saboreia os acepipes que, na mesa, alimentam a fome que se senta à espera de mais. Um menu de colesterol para quem come. E comemos todos. Esta história das refeições terem preços acessíveis e depois colocarem à frente dos nossos olhos ou da boca, o que é bem pior, aquelas coisas fantásticas não dá. Desde as azeitonas e manteiga ao queijo, do presunto à linguiça assada, morcela e outros que tais, torresmos ou gambas à la qualquer coisa, de preferência em francês que é para dar um tom distinto ao repasto, alheira de caça, presunto com melão e tudo o mais que nos passar pela cabeça, vale tudo neste jogo de sedução alimentar. E mais o vinho daqui e dali e também do estrangeiro. E depois? Encomenda-se o quê, quando já se comeu o que havia em cima da mesa? Nem valia a pena perguntar. Mas lá vem o empregado muito solícito, simpático e, na maioria das vezes, barrigudo e com bigode enrodilhado nas pontas. A encomenda faz-se no meio de estou cheio, já não posso mais e coisas assim. Todavia pode-se. E come-se e bebe-se e come-se. Muito bem. Tão bem que se volta na primeira oportunidade que surja. E recomenda-se. E eles também vão e comem. E recomendam. E voltam.
Portugal é um país onde se come bem. Sem dúvida. Portugal é um país onde a obesidade é um dos principais agentes de risco para o aumento de outras doenças que lesam a saúde. Hipertensão, diabetes, colesterol alto e acidentes vasculares cerebrais sucedem-se. A estatísca confirma a enfermidade. Portugal é culpado de estar doente. E continua a servir admiráveis iguarias à mesa da gente. É verdade que estes hábitos vêm de outros tempos. Logo com o nosso primeiro. D. Afonso Henriques era muito forte e alto, caso pouco comum na época. Obviamente devido a uma excelente alimentação. Só pode. Não é por acaso que as desavenças com a mãe deram no que deram. E o Capuchinho Vermelho? E a boca enorme do lobo que queria comer a menina? E os pitéus que a mãe colocara na cesta para a avó? Enfim, não há mesmo cura para esta gula colectiva. Este gostinho transmite-se por direito de sucessão. Nunca mais nos livramos do maldito do colesterol.
Por causa do colesterol, e porque gosto, prescindi das entradas. Comi muita salada, fruta e peixe. E bebi água, claro. Não vá o diabo tecê-las. Não me consta que o dito tenha morrido de ataque cardíaco.
E antes e depois e durante, passeámos palavras ao sabor do vento e do sol. E da fome. E deambulámos à beira-rio. Sentimos a brisa. O fresco. Espreitámos o horizonte. Entre nós e o Sol e as nuvens existia o ar! E rimos até as gargalhadas atrapalharem as lágrimas. É que pela manhã não renunciámos à tigelinha de arroz-doce. Com canela. É só ao sábado…
(fotografia de Olhares, Fotografia Online)