Penso em ti. Sem me inquietar como o meu corpo. É ele que se afasta de mim. Ficaram as nódoas de uma dor dividida. Até ao momento em que o Sol não dure até ao final do dia. E os pássaros tenham esquecido a letra da canção. A mesma que nos entendia de cor e trauteávamos junto ao rio… Como se abril fosse um porto de abrigo. No concreto de um abraço. Na agitação do beijo. Agora, eu anoiteço na suavidade das minhas memórias. Entre as estrelas e o céu. As papoilas e o vento, há raízes que se agarram ao chão.
Não gosto de intervalos. Sabem a suspensão. A interrupção. Cheiram a efemeridade. Nunca a pausa que seria longa. Na música é! Essa faz-se a circular. Vícios! Eu tenho um intervalo que desejo prolongar. O intervalo é distância entre pontos. Entre lugares. Entre pessoas. Ao intervalo não troco as meias, nem as caneleiras. Ao intervalo as pessoas vagueiam pelas ruas sem trajectórias definidas. Também não tomo chá, raramente bebo café. Nem brinco, nem jogo à bola. Mas aproveito para rir. O intervalo é a hora que há-de vir e às vezes não me apetece. O que eu gosto mesmo ao intervalo é de não fazer nada!
Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto.
[Fernando Pessoa]