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ponto de admiração

ponto de admiração

19
Jun15

Convento de Jesus [no tempo dos hospitais]

Paola

Convento de Jesus3.jpgConvento de Jesus3.jpgConvento de Jesus3.jpg

 

... porque me apetece falar com um tempo que ficou parado. na margem do rio. às vezes, vou até lá. conversamos um pouco. ele conta-me histórias e eu lembro-lhe a imaginação fértil que o faz azul. é nesse instante que me mostra fotografias. nasci ali. quando o hospital ainda não era museu. e ele, com a genoridade das mãos que desenham, decide lustrar os contos da minha mãe. não ficaram mais belos. apenas documentados... e, caso eu não soubesse, lembrou-me que ela ficou preocupada com a aspereza das freiras!

 

(Fotografias do Município de Setúbal)

01
Set08

re-nascer

Paola

parabéns!

 

Hoje, cumprem-se dois anos da tua vida. Naquele dia, já à noitinha, as flores pintaram-se de cores admiráveis. Os pássaros entoaram cantigas de embalar. Ainda mais harmoniosas. Também mais inolvidáveis. Magníficos acordes. Excelsas consonâncias. O sol brilhou com nova pujança. E nessa noite, as estrelas sorriram. Choraram lágrimas de rir. E silenciaram-se porque as palavras emudeceram no sublime momento em que te vi. Nenhuma fazia sentido. A comoção espalhou-se pelo meu corpo com a certeza de te ter ali.

 

Sabes, Vénus é a deusa do Amor e da Beleza. E que importância tem, se tu és vida e corpo que eu posso beijar? O seu nome tem epítetos forjados no mito. Nada comparável com o teu, mesmo que ignorado por Camões. O teu canta a aglutinação de santo e lago. Pressagia que suplantarás os escolhos da existência. O teu nome tem orgulhos e audácias. Arrojado. E com ele cumprirás êxitos e paixões. E o teu epíteto já é adorado. O templo, em que vives, não tem a mesma grandiosidade que o da deusa-mulher. Não faz mal. O mito foi publicado no papel. Alegórico e simbólico. Moldou o sagrado de devoções que já não existem. Tu és. O olhar de Vénus é vago e perdido na tela. Os seus olhos, quase estrábicos, foram um ideal de beleza. Os teus têm mar. E céu. E o deslumbramento que o admirável proporciona. E entre o Renascimento e o Nascimento, eu escolho-te a ti. Na epopeia camoniana, é deusa-madrinha dos heróis. lusos. Um ornato secundário. Mitológico. Porém, o maravilhoso és tu.

A pele de Vénus é da cor do marfim, com confusão do branco, amarelado e rósea. É excessivamente perfeita. A tua tem brilho natural. Sem amálgama de tintas. O cabelo de Vénus alarga-se e ondula pelo corpo, aprisionando-se na tela de Botticelli. O teu é Sol e luz e brilho. Naturalmente, vida.
O rosto mostra-se eternamente jovem. Que importância tem, se mentir é feio? A boca perdurará fechada. E tu choras e ris e dizes palavras ainda incompreensíveis. Olhos claros? Ela que olhe para ti. Ostenta uma fisionomia de melífera melancolia. A brandura da feição insinua uma benignidade moral que purifica a deusa pagã. Não te importes, meu menino. Às vezes, tu és assim. Mas muito mais. Ela não ri, nem chora. Coitada! Nem há notícia de ter gargalhado. A atitude é de estátua envelhecida. Nada que se compare com a frescura das correrias que fazes no jardim. E também tu representas a natureza plural do amor. Quanto às qualidades espirituais e humanas? Estimo-as superiores. Sim?

 

- Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim, vó!

- Amo-te!

- Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim, vó!

 

17
Ago08

galopar

Paola

 

nascimento do poldro serrano

 

Os cavalos a correr, as meninas a aprender,qual será a mais bonita

que se irá esconder?

 

 

E lá vamos todas a correr, feitas cavalos de corrida. Crinas ao alto. Olhos esbugalhados. Escondemo-nos. No buraco que chegou primeiro. Silêncios sustidos. E a brincadeira gargalha o achamento dos esconderijos sonolentos. Gritos de esconde-esconde chegam ao céu. Aparece, já te vi! A decepção de ter sido descoberta. Um, dois, Três! Vi-te Rosa. És tu a ficar! E ela esperava que as outras abalassem. Sem saber para onde. Segurava a boca e os olhos que não podiam ver os percursos escolhidos. Regras do jogo.

 

Vi-te na encosta verde da serra. Aproximei-me mansamente para não te amedrontar. Não queria que fugisses outra vez. O momento é desconcertante, a beleza também. E eu enrolo-me no mais absoluto silêncio. Apenas a música das árvores invade o esconderijo. A vida que brota de ti nasce num instante serpenteado de coragem. Contemplação pura. Ele aparece. Não ouço relinchos doridos. A natureza cumpre-se nos rituais da espécie. O tempo de expectativa não foi assinalado no relógio. Quinze minutos, vinte, trinta… E já ele ensaia os primeiros passos. Dificuldades e hesitações. Sucessos. Olha em seu redor e descobre a fome. E bebeu. E tu admiras-te, envaidecida, pelo milagre de o teres em ti.

 

Aparece! Já te procurei aqui e ali. Porém não vi. Não estás em casa. Nem na rua das laranjeiras agrestes. Aquela que acede ao adro da igreja. Não te vi na esplanada empoleirada no passeio. O jogo chegou ao fim. Mostra-te. Prometo que não emito pareceres. Não te descobri no quarto escuro. Não sou capaz. A noite desmontou ali e as estrelas não quiseram entrar. A lua agasalhou o luar. Um amuo brilhante. Vem! Revela-te sem teimosia e agastamentos. Leal e verdadeira. Dá-me a tua mão. Mas aparece! Sem a desconfiança do pânico. Apanhei-te! Isto é só um jogo e eu fecho os olhos. E o verde dança com o azul no sopé da serra. Ao som da música que sobe do rio. Movimentos delicados e deslumbrantes. Aparece! A passo ou trote. Mas divulga-te a galope. 

 

 

fotografia de João Palmela 

 

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Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto. [Fernando Pessoa]

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