encaracolar
de Emanuel Couto, caracol trepador
Porque hoje é domingo, só me apetece parar. Pular, saltar e conjugar o verbo espreguiçar. Eu, tu, ele, ela, nós. De vós não quero saber. E deles nem pensar. Fazem muito barulho e não quero acordar. Ou não! Vou imitar o caracol. Ponho os corninhos ao Sol serenamente. Durmo velozmente. Como lentamente. Mexo-me calmamente. Não faço nada apressadamente. E aguardo paulatinamente que acorde amanhã. Tudo excessivamente devagar. Tudo vou adiar. Tranquilamente. E se me lembar, não dou corda ao relógio. Para que ele não se atreva a falar. Depois, subirei cada degrau, da minha escada, vagarosamente. Não os fizeram para eu descansar? Não? Então, vou subir muito devagar!
E a notícia é de última hora. O caracol, que tentou subir apressadamente a parede de sua casa, sofreu um acidente cardiovascular. Foi assistido no local e transportado de urgência para o hospital mais próximo. Chegou já sem vida, vítima de paragem cardíaca ocorrida durante o transporte, informaram pausadamente. O funeral do irrequieto gastrópode sairá daqui para a sua terra natal. Espera-se a presença de conhecidas figuras públicas.
Mais não explicaram. Nem é preciso.